MÚSICA VIROU PASSATEMPO

 


Sempre ouvi música de todo gênero, desde que meu pai tocava violino no coro da igreja e minha mãe ouvia rádio enquanto costurava para os filhos (9) e os vizinhos. Mais tarde, passei a ouvir concertos numa das mais belas salas do gênero no mundo - a Sala São Paulo, construída a partir de antiga estação da Estrada de Ferro Sorocabana.

Como não me dediquei à música profissionalmente, chegando no máximo a dedilhar alguns acordes ao violão, não me tornei especialista em coisa alguma, a não ser em explorar em reportagens a vida e a obra e artistas. Durante alguns anos fui “especializado”, ao ponto de me pedirem textos a respeito de qualquer artista de sucesso, de forma a agradar ou atingir o público a que tal revista se destinava.

Nunca esqueci o dia em que meu chefe de reportagem pediu em caráter de urgência um texto sobre Ronnie Von, que seria capa de Intervalo (Editora Abril) por ter alcançado primeiro lugar no Hite Parade com “Meu bem”. Entrevistava-o com frequência, ao ponto de frequentar seu apartamento na Vila Nova Conceição e desfrutar de almoço gentilmente feito por sua esposa. Logo, bastaria sentar frente à máquina de escrever. Perguntei ao chefe de reportagem o que deveria abordar e ele me provocou: o que você quiser.

Fiz então um texto sensacionalista que revelava ser Ronnie Von um homem casado. Revelava, portanto, um tabu que prevalecia no caso de todos os ídolos da juventude. O sonho de toda fã era casar-se com seu ídolo.

No dia seguinte, lá estavam Ronnie Von e seu advogado na sala do diretor da revista, Odilio Licetti, exigindo minha cabeça. Após acareação, em que não tive alternativa além de confirmar o que escrevera, despedimo-nos na expectativa de uma providência, que não houve. Não fui demitido nem processado.

O insólito episódio quase me afastou dos artistas da época, que alimentavam o mesmo sentimento. Ao mesmo tempo me fortaleceu junto aos fofoqueiros de plantão, como Nelson Rubens e Décio Piccinnini, entre outros, e me levou a jurado de Silvio Santos, Chacrinha e do Troféu Imprensa por dois anos, até o dia em que, ao entregar a recompensa a Altemar Dutra declarei que na casa dele havia uma sala inteira de troféus - esse seria mais um.

Silvio Santos tirou o microfone e nunca mais me convidou para o corpo de jurados. Desde então virei jornalista político, de economia e assessor de imprensa na área de saúde por 20 anos. A música virou passatempo.

SP 09/05/2024.

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