EVITANDO COLISÕES
Faço algum esforço para manter sob controle a pressão
arterial, o nível de açúcar no sangue e demais parâmetros vitais. Por isso,
tento inutilmente evitar certas notícias, como a de que o Governo está lançando
uma campanha para limpar o nome de milhões de inadimplentes. Não porque esteja
atolado em dívidas, mas porque perco o sono quando vejo algum boleto na minha
mesa. Normalmente fico acordado até tarde, coisa típica do idoso, e agora os
modernos instrumentos eletrônicos não nos deixam em paz. Antes, era a televisão
e o rádio, agora é o telefone celular. Anda-se com ele para não perder chamada
ou para tirar proveito de qualquer folguinha. Minha filha, por exemplo, costuma
me ligar quando vai ao mercadinho comprar alguma coisa que está faltando em
casa. Só para de falar quando chega no caixa.
Como qualquer um, estou sujeito ao novo jornalismo que
desmoralizou as faculdades de comunicação. Atualmente, basta ter um computador,
telefone celular ou tablete para acessar o que acontece aqui e ali, difundir e
opinar como quiser. Não sei para que tantas faculdades de comunicação já que
para ser jornalista nem diploma se exige mais. Qualquer um cria blog, entra ao
vivo e deita opinião.
De vez em quando aparece alguém defendendo a regulamentação
da mídia. Como saber o que é verdade do que é mentira?
De dúvida em dúvida, continuo tentando manter a pressão
arterial, o nível de açúcar no sangue, o tanque de gasolina devidamente
abastecido para evitar multa e já nem olho as garotas que passeiam com seus
cãezinhos pelas calçadas. Se elas acharem que é assédio não adianta alegar
idade provecta, estarei frito. Quer dizer: além de evitar colisões estou
evitando abrir a boca ou usar o teclado. Meu blog anda às moscas e não deixo
nenhum boleto para o dia seguinte. Em outras palavras: voltou a síndrome de
1964, quando se andava olhando para frente, para os lados e para trás, com medo
até da própria sombra.
SP 06/06/2023
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