OUTROS TEMPOS

 

Houve um tempo em que queria ser escritor. Ia a palestras, associava-me a entidades pró isso ou aquilo, lia todos os cadernos literários e visitava os irmãos Condé (José, João e Elysio) em Copacabana, só para sentir o prazer da convivência com “homens de cultura”. Fui correspondente do Jornal de Letras em Pernambuco, sem remuneração, só pelo prazer de conviver com intelectuais, especialmente na casa do escritor Gastão de Holanda.

Assim, podia conversar com o poeta Mauro Mota, com o escritor Paulo Cavalcanti ou com o crítico Renato Carneiro Campos, além de ouvir José Wilker recitar Carlos Pena Filho no bar Savoy, em plena Avenida Guararapes - no Recife, naturalmente.

Às vezes trocava literatura por política, seguindo, entre outros, os amigos Milton Coelho da Graça, Hiram de Lima Pereira, Aluízio Falcão ou João Araújo Ramos da Silveira, tudo à luz de Miguel Arraes de Alencar, líder de todos nós.

Até que veio 1964 e mudou tudo, tirando-me literalmente do edifício Holliday, minha Pasárgada, e jogando-me nos porões da Rua da Aurora, onde por mais de 30 dias dormi no chão, lado a lado com os companheiros de ilusão. Nem foi preciso condenar-me – isso me bastou.

Começa então longa trajetória iniciada com o desembarque no bairro do Brás em agosto de 1964, segue na Editora Abril e termina seguindo os passos e o bisturi de Adib Jatene no Hospital das Clínicas, onde fui assessor de imprensa por 21 anos.

Portanto, não posso me queixar de inércia. Parte dessas estórias estão no livro “Do chão que pisei”, editado pela Loqüi por generosidade de Fernando Portela e distribuído pela Estante Virtual. Não se trata de biografia. É como “Memórias Escrachadas”, que a Cia. Editora de Pernambuco (CEPE) lançou em 2015, em que relato causos de maior, menor ou nenhuma importância.

Em momentos tão conturbados não há tempo para crônicas, cuja eventual oportunidade é discutível até quando produzidas por mestre do gênero.

 Agradeço aos que se dignarem a ler tais despautérios. Se quiserem, deixem suas impressões aqui ou alhures.

SP 17/06/2022.

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