NETOS E CACHORROS NO CELULAR
Um
grupo de amigos da velha guarda tomou uma decisão radical, a partir da imposição
de um deles. É proibido mostrar neto. O autor da imposição, que exerce certa
liderança sobre a turma, vai além. Decreta que a decisão inclui os netos dele.
“Para vê-los, basta ir à casa dos meus filhos ou ligar o meu celular”, disse de
forma autoritária. Foi assim que a turma de velhinhos se livrou daquela
desagradável cena, tão comum hoje em dia, de uma porção de gente olhando em
silêncio para o celular.
Além
de acabar com a cena, que já se tornou comum, outra vantagem é estimular os
componentes da mesa a exporem ideias próprias, em vez de ficar macaqueando o
que sai na mídia social. Assim, além de proibir mostrar neto no celular, o
grupo se livra de repercutir as asneiras que saem a todo momento na internet,
nem sempre confiáveis.
Seria bom se a gente pudesse se livrar também das
variadas mentiras jogadas em nossas caras a todo o momento. Todo usuário tende
a curtir e compartilhar tudo o que lhe parece certo, sem a preocupação de
conferir.
A
notícias relacionadas com a mineradora que causou danos ao meio ambiente, por
exemplo, são de arrepiar. Todo mundo acha que foi punida, mas não foi. Multada, recorre sistematicamente à Justiça e
não paga as multas. Não cumpre ordens judiciais e todo mundo acha que houve punição.
A
frequência com que se colocam na tela da televisão gatos e cachorros em
situação de perigo, em cenas comoventes, só não é maior do que a de novos
programas de dedicados ao assunto. A TV alimenta a internet e vice-versa. Aos
domingos há pelo menos três programas de TV exatamente iguais, no mesmo
horário. Animais em situação de perigo também dão audiência.
Assim,
entre as salas de televisão e as salas de família os animais são objeto de
atenção cada vez maior. Meu receio é chegar o dia em que os petshops sejam mais valorizados do que
as creches. É chique desfilar com cachorrinhos nos shoppings e nas avenidas.
Quanto
à confraria de amigos que proíbe netos no celular, ai de quem mexer no animalzinho
que está ali mesmo, sob a mesa. Pode sair tiro.
Nada
contra quem resolve dedicar seus dias e suas noites aos animais domésticos, mas
me incluam fora dessa. Sem querer ser diferente, nem criar polêmica, prefiro meus netos, inclusive
no celular.
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