OS OUTUBROS DE TAIGUARA
Nenhum
biógrafo consagrado, como Ruy Castro, Sérgio Cabral, Tárik de Souza, Ricardo
Cravo Albim ou Nelson Mota, nem mesmo jornalistas-escritores habitualmente
dedicados a esse tipo de experiência, como Assis Ângelo, Arley Pereira, José
Teles, Audálio Dantas, Aluízio Falcão, Regina Echeverria, Zuza Homem de Melo,
entre tantos outros – nenhum deles se deu ao trabalho de biografar Taiguara
Chalar da Silva. Por quê?
Dezoito anos
depois foi preciso a produtora Kuarup, acionada pela família de Taiguara,
recrutar uma jornalista de economia, Janes Rocha, completamente alheia ao mundo
musical, para desvendar e explicar quem foi esse uruguaio-carioca que mexeu com
as fãs e com o meio artístico através de suas composições de ar poético, mas
carregadas de muita política. Carregadas e comprometidas. Esse trabalho
resultou no livro “Os outubros de Taiguara”.
Apesar do
aparente desinteresse pelo assunto, Taiguara continua vendendo muito, embora a
gravadora que detém as matrizes de seus discos não revele números. Ousaria
supor que restaram profundas sequelas das constantes brigas enfrentadas com o
aguerrido cantor, que não perdia nenhuma oportunidade para reverberar contra a
crueldade do capitalismo.
Em suas cuidadosas
inquirições, a autora do livro se refere incontáveis vezes a essa
característica inconfundível de sua personalidade. Teria sido esse
comportamento atípico o responsável pelo verdadeiro boicote que o persegue até
hoje?
Um de seus
mais ardorosos fãs, o músico Jorge Valente, reclama que o livro não reflete o
caráter emocional da obra do cantor-compositor. Foi exatamente o que pretendeu
a família ao contratar uma jornalista não comprometida com esses aspectos.
Jorge Valente se queixa também da ausência de determinados episódios da vida de
Taiguara, coisa que acontece em todas as biografias, inclusive na que tentei
editar sem êxito, devido à beligerância com que o tema é tratado quando se
trata de direitos autorais.
Grande
artista, Taiguara se perdeu numa rejeição por ele desencadeada a partir de um
radicalismo sem controle. Resta esperar que seus fãs se mantenham fiés e sua
obra seja enfim revivida e usufruída.
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