COMENDO PELAS BEIRADAS
Vez por outra nos vem à lembrança encontros de que participávamos na década de 1950. Éramos jovens, discutíamos sonetos de Vinicius de Moraes, poemas de Daniel Lima (só agora publicados em livro), a música de Marlos Nobre e, inevitavelmente, Marx, Lenin e demais teóricos do comunismo. Claro que ninguém entendia direito. Discutíamos na tentativa de esclarecer o assunto. Havia, é verdade, os que de fato sabiam do que se tratava e davam palestras a respeito. Até se anunciava: amanhã, palestra de fulano sobre mais valia. O que diabo é isso?
Desses encontros meio clandestinos surgiam os simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro, também conhecido por Partidão ou PCB. Sem base cultural, filosófica e histórica sentíamo-nos como o cidadão que, na hora de tomar sopa muito quente, começa pelas beiradas, não conseguindo degustar o verdadeiro sabor da iguaria.
Esta a sensação que temos ao visitar mídias sociais como o Facebook. Supõe-se que a maioria dos que se utilizam desse moderno meio de comunicação ostenta uma cultura de quem come pelas beiradas. Algo como ler orelhas de livro e deitar falação a respeito daquela obra, como fazia Paulo Francis no Jornal da Globo anos atrás. Percebia-se claramente que ele não lera o livro, lançado naquele dia, mas baseado na orelha ele explicava o lançamento com a maior cara de pau. Até que seu destempero verbal rendeu um livro - "Paulo Francis, O Mergulho da Ignorância no Poço da Estupidez", de Fernando Jorge.
No caso de Paulo Francis, o que salvava era a espirituosidade de suas frases. Não tinham a graça das de Jô Soares, mas davam audiência. Jô, por sinal, não deixa a impressão de quem come pelas beiradas. Pelo contrário, até exagera na explicação de seus conhecimentos a respeito de determinado assunto, fugindo inclusive ao tema em foco.
Curioso é o caso de Sílvio Santos, que não faz nenhuma questão de exibir conhecimento a respeito de qualquer assunto, salvo aquele em que é realmente mestre: a arte de chamar a atenção do público. Nunca vai pelas beiradas, vai direto ao ponto. Pega qualquer entrevistado pelo ombro e coloca-o de frente para as câmeras - nunca de perfil, tampouco de costas. Nenhum jornalista-escritor, nem Fernando Jorge, consegue escrever contra o simpático homem do baú, que não come pelas beiradas nem tem papas na língua.
Jovem ainda, morando no interior, usava óculos brancos, sem grau, supondo que daria a impressão de pessoa culta. Poderiam pensar: coitadinho, lê tanto que está ficando cego. E mais: tossia, simulando tuberculose, para mostrar sofrimento. Era assim aos 17. Comia pelas beiradas. Desconfio que ainda como.
Desses encontros meio clandestinos surgiam os simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro, também conhecido por Partidão ou PCB. Sem base cultural, filosófica e histórica sentíamo-nos como o cidadão que, na hora de tomar sopa muito quente, começa pelas beiradas, não conseguindo degustar o verdadeiro sabor da iguaria.
Esta a sensação que temos ao visitar mídias sociais como o Facebook. Supõe-se que a maioria dos que se utilizam desse moderno meio de comunicação ostenta uma cultura de quem come pelas beiradas. Algo como ler orelhas de livro e deitar falação a respeito daquela obra, como fazia Paulo Francis no Jornal da Globo anos atrás. Percebia-se claramente que ele não lera o livro, lançado naquele dia, mas baseado na orelha ele explicava o lançamento com a maior cara de pau. Até que seu destempero verbal rendeu um livro - "Paulo Francis, O Mergulho da Ignorância no Poço da Estupidez", de Fernando Jorge.
No caso de Paulo Francis, o que salvava era a espirituosidade de suas frases. Não tinham a graça das de Jô Soares, mas davam audiência. Jô, por sinal, não deixa a impressão de quem come pelas beiradas. Pelo contrário, até exagera na explicação de seus conhecimentos a respeito de determinado assunto, fugindo inclusive ao tema em foco.
Curioso é o caso de Sílvio Santos, que não faz nenhuma questão de exibir conhecimento a respeito de qualquer assunto, salvo aquele em que é realmente mestre: a arte de chamar a atenção do público. Nunca vai pelas beiradas, vai direto ao ponto. Pega qualquer entrevistado pelo ombro e coloca-o de frente para as câmeras - nunca de perfil, tampouco de costas. Nenhum jornalista-escritor, nem Fernando Jorge, consegue escrever contra o simpático homem do baú, que não come pelas beiradas nem tem papas na língua.
Jovem ainda, morando no interior, usava óculos brancos, sem grau, supondo que daria a impressão de pessoa culta. Poderiam pensar: coitadinho, lê tanto que está ficando cego. E mais: tossia, simulando tuberculose, para mostrar sofrimento. Era assim aos 17. Comia pelas beiradas. Desconfio que ainda como.
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