DATENA E AGUINALDO SILVA

 

Um, fala pelos cotovelos. Diz o que lhe vem à cabeça, de qualquer maneira, sem a menor preocupação com as consequências e muito menos com o pobre Português. Outro, mais vaidoso ainda, solta a franga com certa dignidade, com a quase finura de quem quer mostrar educação. José Luís Datena e Aguinaldo Silva trocando farpas pela televisão e pela internet era tudo o que faltava numa semana tumultuada pela discussão do mandato de Eduardo Cunha e da eleição de seu sucessor na presidência da Câmara dos Deputados.
Felizmente o telespectador passou batido. Não houve a repercussão que os contendores esperavam ou os telespectadores não quiseram dar trela. Bom para todos nós, que poupamos nossa inteligência.
A peleja serviu ao menos para despertar a curiosidade em torno do novo livro de Aguinaldo, “Turno da Noite, memórias de um ex-repórter de polícia” (Objetiva). Como se sabe, além de várias novelas, todas líderes de audiência, Aguinaldo Silva é autor de vários romances, e nesse aspecto dá um banho em Datena, que não escreve nem bilhete para seus subordinados.
Excetuando o auto-endeusamento, vale conferir a descrição primorosa dos acontecimentos em que o jornalista-escritor foi envolvido desde seus primeiros passos na Última Hora.
Meu particular interesse nesta parte decorre do fato de ter sido contemporâneo de Aguinaldo nesta primeira fase dele como jornalista. Trabalhei do primeiro ao último dia do jornal Última Hora – Nordeste, até sua destruição parcial pelo Exército em 1º de abril de 1964, quando fui preso e em seguida mudei para São Paulo, onde moro ainda hoje.
No livro ele descreve suas peripécias de repórter plantonista do aeroporto dos Guararapes. Tudo o que ele descreve ocorreu comigo também. Tive inclusive o privilégio de entrevistar D. Hélder Câmara quando ele desembarcou para assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife.
Aguinaldo entrou no jornal aos 16 anos com a fama de ter lançado um livro. Eu entrei aos 26 com a coragem, a cara e modesta experiência de revisor do Jornal do Commercio. Durante os quatro anos de existência do jornal, conhecido como enfezado, estivemos lado na redação e às vezes no Savoy, onde os jornalistas baixavam no fim da noite.
Ele se lembrou de Múcio Borges da Fonseca, Milton Coelho da Graça e Anderson Campos, os primeiros a reconhecer o seu talento. Deve ter tido razões para me esquecer, uma delas o preconceito que eu herdara do machismo caruaruense. Era meu amigo, mas me olhava com reserva, pois sabia de minhas tendências preconceituosas, que demorei a abandonar.
Quanto ao livro, traz a marca inconfundível do premiado autor, que se tornou um dos homens mais ricos do país, com casas no Rio e em Portugal. Talvez não seja tão rico e poderoso como Paulo Coelho, mas com certeza muito mais talentoso.
Em suas memórias, Aguinaldo se detém no convívio com os cariocas. Fica devendo a história de nossos primeiros passos na redação da rua Barão de São Borja, onde Eurico Andrade, Aluízio Falcão, José Marques de Melo, Ronildo Maia Leite, entre outros destemidos jornalistas, lutávamos pela consolidação das ideias de Miguel Arraes de Alencar.
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