VIVA SÃO PAULO!


 


Dos 470 anos de Sampa, aqui vivi 60. Ao desembarcar de uma Kombi no Brás em agosto de 1964 me hospedei no hotel Cavaleiro, na rua Cavaleiro. Tinha 27 anos, pouquíssimo dinheiro no bolso, e andava olhando para trás a fim de me certificar de que não estava sendo seguido. Afinal, acabara de sair do DOPS de Pernambuco, onde ficara 30 dias acusado de crime inafiançável: ser solidário ao prefeito do Recife, Pelópidas da Silveira – de quem era assessor de imprensa – e ao governador Miguel Arraes de Alencar, de quem era ardoroso fã.  

Meus primeiros telefonemas foram para a Editora Abril, então na rua João Adolfo, e Última Hora, no Anhagabaú, onde já se encontravam outros jornalistas fugidos pelo mesmo motivo. O chefe da redação foi logo dizendo que não tinha mais vaga pra nenhum pernambucano. Já haviam acomodado uns 10, entre outros Múcio Borges da Fonseca, Eurico Andrade e Carlos Luís de Andrade – jornalista, advogado e ex-deputado.

Mas foi outro telefonema que me tirou do hotel mambembe para uma casa de família. Liguei para Caio Prado Júnior, que conhecera em Cuba. O professor da USP me acolheu simpaticamente “até arrumar emprego”, conforme me disse na ocasião.

Em um mês estava na Abril, onde fiquei durante alguns anos. Em seguida, trabalhei sucessivamente no O Estado de São Paulo, Unibanco, Siemens e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde fiquei 21 anos.

Como se vê ou se lê, quase toda minha vida foi vivida aqui. Quando tentei voltar, não me deixaram. Cheguei a trabalhar na editoria do Diário de Pernambuco alguns meses com uma condição inaceitável: sem registro em carteira. “Quem defendeu Arraes não tem vez”, confidenciou-me um amigo do setor de pessoal. Tive então de voltar para Sampa, onde arrumei emprego imediatamente. Terra boa, sem preconceitos, onde quem quiser trabalhar e ganhar dinheiro é só acordar cedo e ir à luta! Não ganhei dinheiro mas tenho meu apê, meu carro, dois filhos formados pela USP e alguns netos no mesmo caminho. Viva São Paulo!

Comentários

  1. Prezado senhor.
    Cheguei até aqui guiada pelo seu sobrenome. O senhor por acaso têm algum parentesco com o historiador Cleber Tiné?
    Procuro uma publicação dele relacionada a história de Caruaru. Será que o senhor poderia me ajudar?
    melo.marciap@gmail.com
    81- 987423869
    Márcia Melo

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