QUEIXAR-ME DE QUÊ?

 

 

Ouvia mais uma vez o concerto nº 5 para piano e orquestra de Beethoven, também conhecido como Imperador, quando desisti de concluir uma crônica em que me queixava de pobreza. Referia-me à Notificação da Prefeitura Municipal de São Paulo que me isenta de imposto predial no exercício de 2023 por causa do tamanho do meu apartamento: 69 m2. É o tamanho de minha pobreza.

Depois de ouvir um a um todos os concertos de Beethoven, graças à solidão imposta pela epidemia de Covid nos últimos anos, vou queixar-me de quê? E os mais de 30 mil que perambulam pelas ruas de São Paulo? É bem melhor acomodar-me, fazer do limão uma limonada, como se diz vulgarmente. Afinal, além de ouvir a maioria dos grandes concertos pelos melhores intérpretes, ouvir todas as melodias disponíveis, ver as paisagens mais deslumbrantes e ler os mais disputados textos do mundo, sem nenhum credor à minha porta, tenho à disposição no lap top ou no celular, de Gisele Büdchen a Angelina Jolie, de Elis Regina a Rita Lee, como quiser.

Não tive o azar de um colega jornalista, o paraibano Francisco de Assis Ângelo, que depois de entrevistar e conviver com autoridades e artistas de todo o país ficou cego por causa de um descolamento de rotina. Pelo contrário. Uma cirurgia de catarata me deixa ver formiguinhas e as bailarinas do Faustão, do Fantástico e do Sílvio Santos. Mas, só ver.

Desde a juventude tive por hábito frequentar teatros, não sei por quê. Nunca subi num palco como ator, mas me realizava vendo as interpretações – era isso –e até me arvorei de crítico de teatro e de música. Teatro Santa Izabel no Recife ou Municipal em São Paulo foram meus vícios aos domingos de manhã, até surgirem a Sala São Paulo e o Memorial da América Latina. Queixar-me de quê? Tudo é teatro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOVAS EMOÇÕES

QUESTÕES DE ORIGEM