CABOTINISMO À PARTE
De vez em quando alguns
nomes me vêm à cabeça sem um motivo real, concreto, objetivo. Estão no
subconsciente por ter convivido com eles ou porque de alguma forma me
impressionaram. Sem ordem cronológica ou de importância me lembro com
frequência, nos tempos do Recife, de Paulo Cavalcanti, Milton Coelho da Graça,
Ronildo Maia Leite, Hiram de Lima Pereira, Gastão de Holanda, Mucio Borges da
Fonseca, Jarbas de Holanda Pereira, Antônio Avertano Barreto da Rocha, a
maioria falecidos.
Em São Paulo, aonde
passei a viver a partir de 1964, fiz amizades inesquecíveis como Caio Gracco
Prado (Editora Brasiliense), Antônio Fernando de Franceschi (Unibanco), Adib
Jatene (Incor), e dezenas de professores da Faculdade de Medicina da USP, onde
trabalhei como assessor de imprensa durante 21 anos. Surgiram amizades cuja
nomeação seria enfadonha.
O que mais me
impressionou foi nos dias de internação de Tancredo Neves no Instituto do
Coração do Hospital das Clínicas, quando 1.200 jornalistas se inscreveram para
receber informações. Tinha o telefone de cada um. Ligaram-me dia e noite
durante os 47 dias de internação porque eu intermediava as entrevistas
coletivas, coordenadas pelo assessor do presidente, jornalista Antônio Brito.
Tivera experiência anterior
na Editora Abril, como repórter da revista Intervalo, dedicada à televisão.
Todos os artistas que lançavam seu primeiro disco eram encaminhados à redação
da revista, onde eu era um dos entrevistadores. Decorrido certo tempo, tinha um
caderno com nome, endereço e telefone de todos os artistas, de Roberto Carlos a
Cláudya, de Ronnie Von a Altemar Dutra, com os quais falava sempre que
necessário. Certo dia, saí com tal caderno no porta-malas do meu carro para
jantar com um filho. Ao sair da casa dele tinham roubado meu carro zero km,
ainda sem placas. O seguro cobriu o prejuízo mas perdi todos os endereços. Minha
intenção era fazer uma cópia, pois a revista iria fechar em breve.
Resta-me supor, sem
vaidade, que nenhum outro jornalista conseguiu tamanha quantidade de contatos
ou resistiu tanto como saco de pancadas, não sei se por indiferença ou
sabedoria. Cabotinismo à parte, sobrevivi a tudo até hoje.
SP 24/03/2023
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