ASSIS ÂNGELO FAZ 70
Dia 27, ele faz 70
anos e vamos festejar condignamente, mesmo sem Tinhorão, Audálio e outros que
se foram. Quem sabe Vandré dê o ar de sua graça, ou José Hamilton Ribeiro. Com
certeza nosso personagem não os verá mas deverá reconhecer a voz de antigos
companheiros e artistas que um dia entrevistou.
O Instituto Memória
Brasil, que reúne acervo de grande valia e é também sua casa, será invadido por
amigos e amigas. Assis não os verá, mas ouvirá tudo. Seus amigos relembrarão quem
é ele, que veio da Paraíba para São Paulo com o mesmo talento dos nordestinos
que um dia invadiram o Sul Maravilha para nos orgulhar.
Francisco de Assis
Ângelo ficou cego já cinquentão, depois de ver de perto, amar, entrevistar e
conhecer pessoalmente a nata da MPB e da Cultura nacional. Durante anos
colaborei com ele sem o conhecer pessoalmente. Falávamos ao telefone. Como
assessor de imprensa do HCFMUSP eu o ajudava intermediando incontáveis
entrevistas e reportagens na TV Globo, onde ora produzia, entrevistava ou escrevia.
Até que ele me
procurou queixando-se da vista, que andava falhando aqui e ali.
Para resumir, a Oftalmologia
diagnosticou glaucoma, em estado avançado. Várias cirurgias depois, ele estaria
completamente cego. Aquilo que começara como inocente embaço, tornou-se
cegueira irreversível. Acionados por mim, os mais competentes especialistas não
conseguiram contornar o problema.
Hoje, Assis Ângelo
não vê sequer os carros que passam sob a janela do apartamento onde mora só mas
nunca está sozinho, graças à presença diária de filhas, amigas e amigos. À
tardinha, quando o sol se esconde por detrás dos prédios da Alameda Eduardo
Prado, deita numa rede e apela ao celular para contatar alguém de sua
intimidade. Fala e chora. Chora e fala.
26/09/2022
Comentários
Postar um comentário