VIDA OLÍMPICA
Já que se tornou comum enaltecer a vitória de pessoas humildes. Nada mais justo. Devo dizer inicialmente que me identifico com os que entram no primeiro trem para chegar ao trabalho horas depois. Fiz isso muitas vezes. Só quando comprei meu primeiro carro, um Dauphine, passei a fazer a mesma peregrinação dirigindo.
Num determinado tempo, cheguei a correr de emprego a
emprego – um de 7 às 12, outro de 13 às 18 e finalmente um terceiro, das 19 às
24 (Diário do Grande ABC, Diário do Comércio e Indústria e Estadão) e ainda por
cima escrevia uma coluna diária no jornal A Gazeta, que entregava na portaria
da rua Barão de Limeira durante o trajeto entre um e outro emprego.
Um verdadeiro recorde: 4 (quatro) empregos
simultaneamente. Saía de casa às cinco horas e chegava perto de meia noite. A
bem da verdade, esclareça-se que na época não havia muita rigidez de horário.
Cada um tinha uma tarefa, fosse a cobertura da Bolsa de Valores ou o acompanhamento
de determinada atividade – Câmara ou Assembleia, por exemplo. Dominando o
assunto, era possível cumprir sua tarefa e dar no pé.
Além dos quatro empregos, eu tinha uma banca de jornais
clandestina, apreendida após um ano de propina e prejuízos. Para abastecê-la de
revistas ia a três endereços no centro da cidade, antes de iniciar a jornada.
Tratava-se ou não de uma olimpíada? Foram 36 anos de
trabalho com registro em carteira e não sei quantos sem registro.
Bati todos os recordes de almoçar em restaurantes da
grande São Paulo. Nos feriados ou nos fins de semana levava a mulher e os
filhos a todos os parques, concertos, exposições, shows, piscinas públicas e
privadas, praias – de Paraty à Ilha do Mel, sem esquecer as de Pernambuco,
quando em férias.
Claro que não podemos deixar de aplaudir os atletas
que brilham nos dias atuais, depois de muitas dificuldades. Mas os nordestinos
que buscam o Sul Maravilha também vivem uma maratona.
Uma vida quase olímpica, sem jamais chegar ao pódio.
SP 8/07/2021
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