CONFISSÕES AOS OITENTA

 


Quando ligo o computador vem a provocação sobre o que estou pensando. Embora a prudência recomende não contar, surpreendo-me revelando coisas que não deveria comentar, segundo parentes.

Tenho evitado, por exemplo, discorrer sobre certas autoridades, mas neste caso trata-se de uma questão de gosto, ou melhor, de bom gosto. Não vou desperdiçar meu tempo com fora fulano ou ditos do gênero, tampouco discorrer sobre Afeganistão, que não entendo.

É verdade que ainda ontem cometi a imprudência de me referir a Sérgio Reis, talvez porque algum dia o entrevistei, quando escrevia sobre variedades. Tal atividade não chega a ser um crime, pois repórter é obrigado escrever sobre tudo, mas relembrar que dediquei alguns anos de minha vida a tal mister me dá arrepios ou a impressão de ter sido idiota.

Quando trabalhava em revista de fofocas lembro que ao visitar um amigo médico, havia curiosidade das pessoas da família sobre a intimidade de certos artistas. Alguém perguntava sobre namoro, casamento, algo do gênero, fazendo sempre a ressalva de que vira uma cena de novela quando fora à cozinha, onde a TV das empregadas estava sempre ligada. Claro, era desculpa esfarrapada. Toda família via novelas e queriam saber quem dava e quem comia, fora da telinha.

Minha esposa, por exemplo, achava que eu me aproveitava dessa provável promiscuidade no meio artístico e, em parte por isso, pediu separação. Admito incompetência nesse mister. Tomava todas com alguns artistas, mas cedia apenas ao assédio de insistentes divulgadoras em busca de espaço na mídia para quem trabalhava.

O ginásio do Interior, dirigido por religiosos, deixou alguma inibição, mesmo diante de certo machismo nordestino enrustido.

SP 22/08/2021

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