ADEUS, MILTON COELHO DA GRAÇA!
Última Hora era vespertino. Mais ou menos na hora do
almoço Milton Coelho da Graça aguardava ansioso a chegada do repórter e do
fotógrafo para produzir a manchete do jornal, que estaria nas bancas no meio da
tarde.
Depois de percorrer várias bancas apuradoras em busca
de eventuais figuras políticas ilustres ou fatos inusitados, a dupla chega
ofegante à redação sem nada que justificasse uma manchete, nada relevante, só
andamento das apurações.
-- Isso eu sei, pô, tá no rádio. Preciso de uma manchete! – grita Milton, desesperado. Solta todos os palavrões que conhece e me ameaça de demissão por incompetência. “Como um repórter vai às ruas, percorre várias zonas eleitorais e não traz uma manchete?” – pergunta, em desespero. Fui “salvo” pelo fotógrafo Clodomir Bezerra, companheiro de jornadas, que produziu interessante material.
Foi uma das aulas práticas inesquecíveis do meu primeiro chefe de reportagem, que não me demitiu. Ao contrário, mais tarde me indicou para um dos trabalhos mais importantes que desenvolvi em São Paulo, como redator de um “house organ” destinado a consolidar a União de Bancos Brasileiros como conglomerado Unibanco.
Ironia do destino: um comunista
notório, que ficou quase um ano na prisão em 1964, escolhe os jornalistas que
editam publicações de um banco. Por quê? Ocorre que ele cultivava amizades
com personalidades de diferentes níveis sociais, graças à sua cultura e sua
habilidade em diálogos imprevisíveis. Ai de quem tentasse ludibriá-lo.
Milton deixou o jornal
UH-N para escrever uma coluna diária no Jornal do Commercio. Era dos poucos
jornalistas que conhecia taquigrafia, lembra Aluízio Falcão, na época colunista
político da UH-N. Milton era formado em Direito e Economia, mas sua vocação
para o jornalismo era incontrolável, ao ponto de não ter tido tempo de produzir
um livro que reunisse seus brilhantes esclarecimentos e conclusões. Deixou apenas a biografia de Roberto Freire, editada pela Barcarola e distribuída pela Fundação Astrogildo Pereira, onde modestamente figura como Organizador.
Para dar adeus ao companheiro
de redação da Rua Visconde de Goiana restam apenas Aguinaldo Silva, em Lisboa;
Celso Marconi, em Olinda; Aluízio Falcão e eu, em São Paulo.
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