ANTES QUE O ALZHEIMER ME PEGUE
Sou tentado, às vezes, a adotar a recomendação de aceitar
apenas boas notícias, como o lançamento da terceira biografia de Nara Leão, por
Tom Cardoso (editora Planeta). Antes, Sérgio Cabral e Cássio Cavalcanti haviam
lançado suas versões. Muda o texto - não a história, de interesse dos estudiosos
da MPB.
Quando tento ir a fundo na vida e na obra dos cantores, devo
estar querendo driblar dificuldades de entonação e pouco conhecimento do
assunto. Durante algum tempo fiz disso meu ganha-pão, nas revistas Intervalo,
Contigo, Amiga e no jornal A Gazeta, onde mantinha coluna de variedades que
misturava pequenas notícias com comentários. Daí a me integrar à Associação
Paulista dos Críticos de Arte foi um passo. Essa atividade me levou a integrar eventualmente
o corpo de jurados de Chacrinha e Sílvio Santos.
Admito que era melhor na máquina de escrever do que na arte
de enfrentar um microfone. Por isso não fiz sucesso nos palcos. Fazia sucesso,
isso sim, com Nelson Rubens, Décio Piccinnini, Cynira Arruda, Arley Pereira,
Giba Um e outros companheiros com quem trocava informações nos corredores e
camarins onde pontuavam artistas em geral. E, aqui para todos nós, era bom de
copo. Altemar Dutra, Antônio Marcos, Fernando Lobo (pai de Edu Lobo), entre
outros, que o digam. Infelizmente não estão aqui para testemunhar. Tampouco
existe o bar de Carlos Paraná, da Galeria Metrópoles, onde bebericava até com Chico
Buarque.
Essas façanhas antecedem minha dedicação à assessoria de
imprensa na área hospitalar. Buscava na música o alento contra os desacertos da
política. Admito que essa busca do conforto espiritual através do som pode ter
sido, quem sabe uma necessidade de fugir à realidade, uma fuga. Afinal, na
juventude fiz tudo o que faziam os curiosos, inclusive enveredei pelas lutas
políticas. Cheguei a percorrer a ilha de Cuba, de Pinar del Rio a Guantânamo,
em busca de subsídios para ideias que supunha revolucionárias. Mas esclareço
que a única vez que peguei em armas foi ao prestar serviço militar obrigatório.
O amor à música nada tem a haver com ideologia, suponho. Mas
a cobertura de eventos artísticos serviu de aceitável álibi quando, a partir de
1964, a coisa apertou para todo mundo, obrigando-me a trocar o Recife por São
Paulo. Na juventude fui violonista. Fazia serestas com repertório à Silvio
Caldas, que ouvia na Difusora de Lorega, em Caruaru. Um dos meus preferidos, na
época, era o violão elétrico de Antônio Rago, que mais tarde conheceria
pessoalmente em São Paulo. À noite, quando prevalecia o silêncio das cidades do
Interior, ouvia a rádio Moscou, que mantinha alguns programas em Português.
Posso ter várias comorbidades, mas o “alemão” ainda não me
pegou, a julgar pelas lembranças. Nos tempos da Jovem Guarda, por força da
profissão, almoçava com Roberto Carlos, Ronnie Von, Eduardo Araújo, Martinha,
Silvinha ou Evinha. Mas gostava mesmo era de Zimbo Trio, Elis Regina, Chico e outros
mais. Ainda não conhecia Mônica Salmaso, Choronas, Choro das Três, Paulo Tiné...
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