VANTAGENS DA CRISE


   

     O lado bom dessa crise desencadeada pelo coronavírus é o fato de nos empurrar literalmente à solidão. Aqui e ali surgem poemas, crônicas, composições musicais e um sem-número de iniciativas interessantes, graças principalmente às facilidades de produção e divulgação de novas ideias.
     É verdade que nem sempre tais criações são de algum valor, mas procurando a gente se deleita com verdadeiras preciosidades. Nem precisa ser algo cult. Pode ser uma aula da linda Paula Autran, atriz que ensina a escrever com desenvoltura, ou uma selfie de alguém se exercitando ao ar-livre – Heliana Nogueira ou Rosana Jatobá, por exemplo -  logo hesitamos entre a moldura e o conteúdo.
     Quem gosta de poesia pode ouvir “Antônio Romane lê”, uma sucessão de versos de autores conhecidos ou não, pouco importa, mas bons.
     A internet acaba com a solidão de qualquer um, até de um repórter do falecido JT, Valdir Sanches, que outro dia nos deliciou com um comentário sobre o exíguo espaço em que escuta, lê, estuda ou desenvolve suas lembranças. Quando nada disso basta – conta ele – vai ao bar e desfruta a serra da Cantareira.
     Aqui pra nós, não tenho a mesma sorte. Contento-me com o desfile de vizinhas de jeans rasgados passeando com cachorros. Às vezes dá, às vezes não.
     O que salva são as lembranças, como o dia em que andei lado a lado com Fanny Abramovich, Susana e Caio Gracco Prado, Liana Aureliana, entre outros inesquecíveis “companheiros”, pelas ruas de Santiago de Cuba e de Guantânamo.  Ensaiei uns versos jurando que daqui “yo no quiero quedarme”, mas tive de me contentar cantando “Guantamera” e voltar para o Recife “com orgulho e com saudade”, como diria Antônio Bandeira.

SP 17/03/2020  

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