DIPLOMA INATINGÍVEL
Sempre que escrevo a respeito de alguma coisa observo
diferentes tipos de reação. Algumas pessoas contestam, outras não querem perder
tempo em gastar verbo com defunto ruim. Pior é o silêncio, prova inconteste de
que nada do que foi colocado tem importância.
A reação é proporcional à agressividade das colocações.
Quando se elogia, lê-se no máximo “muito obrigado”. Quando se xinga, chovem
manifestações.
Ao contrário dos que não hesitam em xingar a mãe, quando não
a sexualidade dos outros, temo a Justiça, que justa ou não, pode nos atingir de
forma desastrosa. Talvez por isso não ouse xingar os atuais mandatários, que
acabam tudo o que se construiu ao longo de muitos anos.
Às vésperas de concluir curso de Direito recusei-me a
assinar lista em que os formandos doavam pequena quantia para a compra de um
relógio a ser doado a um professor. O objetivo era agradecer ao mestre a “generosidade”
de fazer “vista grossa” de nossa ignorância (estudantes noturnos), aprovando quem
não aprendera nada. Paguei caro.
Mês seguinte estaria em recuperação na matéria daquele
professor. Nunca mais fui buscar meu diploma, mesmo porque já era jornalista
profissional, não precisava dele. Estudava apenas para melhorar meus parcos
conhecimentos. Daquele tempo ficou apenas a lembrança de grandes mestres como
André Franco Montoro. O nome do tal professor sumiu na memória, pena de
esquecimento que não consta da lista de punições de seu Direito Penal. Nunca
mais pisei naquele chão.
Chega a notícia da morte de Marcelo Martins Gomes,
ortopedista de primeira que durante muitos anos atuou em Pernambuco, e alegre
companheiro de juventude. Entre os vários irmãos ele tinha o advogado Arsênio
Martins Gomes, poeta que recitava Vinícius nos botecos de Caruaru, onde todos
os conheciam – o poetinha e o poetaço. Marcelo era, por assim dizer, o poeta da
mobilidade.
Antes que essa conversa descambe para lembranças que acabam
nos conduzindo a outras tristezas, como as mudanças climáticas e políticas,
resta-nos agradecer por ainda conseguir martelar nos teclados sobre variados
assuntos. Não tenho diploma na parede nem dinheiro no bolso, sequer mangueira
no quintal. Mas ainda vivo, no final de 2019.
SP 28/12/2019
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