PARA TE VER MELHOR
Quando subia com a namorada num prédio em construção da
rua da Aurora, no Recife, ouvia de seus lábios de mel uma confissão inusitada.
Ela perguntava e respondia ao mesmo tempo o que eu achava mais bonito em mim,
aos vinte e poucos anos bem vividos. São seus olhos, dizia, quase emocionada. Eu
olhava a linda paisagem da Veneza brasileira, Capibaribe ao largo, e em seguida
fulminava os olhos dela como num mergulho. Cruzávamos os olhares e as pernas,
em inesquecível conluio. Velhos tempos, belas vistas.
Por imperdoável negligência, meu olhar desviou sua
atenção daquele lindo exemplar – ou seria modelo? – buscando outras paragens
não menos nobres, porém sem o mesmo brilho. Nem Havana, nem Paris, nem mesmo a
verdadeira Veneza jamais proporcionaram o mesmo encanto dos momentos vividos
naqueles prédios em construção, que invadíamos perigosamente ao anoitecer.
Ouvi muitas vezes “são seus olhos”, quando tentava elogiar
a beleza de uma mulher. E não via nada quando olhava as estrelas, tentando entender
os mistérios do Universo. Em outras oportunidades, passei tardes inteiras atento
aos mais incríveis vestuários da avenida Campos Elísios. Também passei algumas
horas olhando o teto do Vaticano, a Capela Sistina, os quadros do Prado e do
Louvre. Vi e guardei muita beleza.
“Tua imagem permanece imaculada/em minha retina
cansada”, cantava Orlando Silva em “Lábios que beijei”.
Quase diria: olhos privilegiados, esses agora reprovados
pelas autoridades do trânsito.
Sou finalmente obrigado a entregar-me a uma
profissional para recuperar essa capacidade que todos têm de apreciar a vida em
toda sua plenitude.
Em suas mãos, Amaryllis Avakian!
Em suas mãos, Amaryllis Avakian!
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