MEMÓRIAS VIRAM CRÔNICAS
O Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), maior e melhor
hospital universitário do país, com cerca de dez mil servidores, atende
milhares de pessoas não apenas de São Paulo, mas de outros Estados e do
exterior. Desde sua inauguração em 1944 impunha-se regime administrativo
fechado e só se relacionava com a imprensa através de nota oficial.
Em 1982 o então
superintendente Guilherme Rodrigues da Silva criou uma assessoria de imprensa e
nomeou o jornalista Flávio Tiné para promover o atendimento à mídia. Era uma
missão difícil, alguns consideravam impossível.
Sem muita capacidade de
liderança, o jornalista era amigável e tolerante, tendo também qualidade de
conduzir o processo de discussão dos feitos do hospital sem entrar em conflito
com os professores doutores: tinha calma, irritante calma. Quando tudo se
voltava contra ele e começavam a pedir sua cabeça, alegando incompetência, ele
fingia ser portador de Down, provavelmente sem o perceber. A doença não era
ainda a coqueluche em que se transformou, levando a classe média alta a
descobrir vítimas entre familiares. O próprio hospital mantinha em seu quadro
de funcionários portadores de deficiência, admitidos por amigos, parentes ou professores,
ou com apoio de legislação pertinente.
O cargo de assessor de
imprensa, embora exigisse dedicação exclusiva e atenção dia e noite, era
disputadíssimo, inclusive por filhos (as) de professores doutores formados em
jornalismo. Para sorte do assessor, a estabilidade era garantida pela
legislação. Ninguém conseguiu derrubá-lo em 21 anos, até que um administrador o
demitiu por justa causa, a pedido de um dos 55 professores que se sentia
prejudicado pela má divulgação de seus feitos. A medida foi corrigida pela
Justiça, mas a indenização foi levada a precatório, isto é, o Estado transferiu
o pagamento para o fim do mundo.
Bafejado por alguns e disputado
por profissionais em fim de carreira, o cargo de assessor de imprensa virou
troféu desejado por todos. Flávio Tiné atribui o eventual êxito de sua missão à
qualidade dos serviços e ao nível dos entrevistados – não a seu trabalho.
Em forma de crônicas, os
relatos estão no Blog Tiné (blogdotine.blogspot.com), para apreciação e julgamento
de todos – não para vanglória.
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