ASSESSOR OU ASSISTENTE SOCIAL?



Se há um tempo inesquecível em minha vida é os 21 anos em que fui assessor de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Comecemos daí: exigiam que escrevesse por inteiro. Um resumo, tipo HCFMUSP, só quando fosse necessário repetir o nome da instituição ao longo do trabalho. Mas a primeira exigência era preservar a imagem, seja ela qual fosse. Nenhum paciente poderia ser mostrado, tampouco seu entorno, muito menos os médicos que dele cuidavam. Não valia o argumento de que nem tudo o que fosse filmado seria publicado, pois sabia-se que essa promessa seria desrespeitada e mais: o servidor que autorizasse seria punido com o rigor das normas internas.
Quando Carlos Nascimento e eu fizemos um Globo Repórter com essa premissa, o programa não foi ao ar.  Até hoje não descobri porquê. Ou as imagens ficaram fortes demais ou não conseguiram nenhum retorno financeiro que justificasse sua exibição. Só depois de muitos anos, quando descobriram que a divulgação dos grandes feitos médicos dava um bom retorno, sobretudo em termos de imagem, é que alguns médicos começaram a dar entrevistas.
O caso Tancredo Neves no Incor foi o primeiro passo nesse sentido. O Incor era Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Não podia escrever Incor/USP.
Logo me tornei conhecido nacionalmente, juntamente com Antônio Brito, entre os 1.200 jornalistas inscritos para acompanhar a tragédia no Incor. Brito era ouvido sobre Tancredo, eu era acionado para atendimento aos jornalistas que necessitavam de alguma coisa, qualquer coisa, desde água e café até atendimento médico, quando sentiam algum incômodo, de dor de barriga a dor de cabeça.
A partir do caso Tancredo começou minha saga. Nunca mais dormi uma noite inteira. Os pedidos de informação sobre pacientes internados no HC surgiam a qualquer momento, bem como pedidos de ajuda a jornalistas ou seus familiares. Supunha que tal atendimento facilitava a divulgação do hospital, à medida que os beneficiados ficariam gratos. Nunca pude mensurar isso. Sei apenas que esse tipo de atividade paralela, que também ocorria dia e noite, em geral era bem-sucedida. Afinal, que médico se recusaria a atender um pedido da Globo, por exemplo, sabendo que amanhã poderia estar nos seus noticiários? Talvez, eu tenha sido mais eficiente como assistente social dos jornalistas, atendendo-lhes os pleitos particulares, do que como assessor de imprensa.

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