EM RITMO DE ORAÇÃO
Na juventude me diziam quem pensa não casa, mesmo
assim todo mundo se amarrava de um jeito ou de outro, com ou sem papel, desfrutando
das benesses ou sofrendo as consequências de suas decisões.
Estou nos dois casos. Casei e descasei. Usufruí e
sofri – detalhes não vêm ao caso. O importante é a tranquilidade de ter feito mais
acertos do que merdas, tendo o orgulho de não ser procurado por credores, pelo
menos até agora. Nunca tive coragem de roubar manga do vizinho, nem quando a
mangueira espalhava seus galhos sobre meu quintal.
Nesse sentido, ou por causa disso, desafio qualquer
comissão de inquérito, inclusive as que pululam por aí, a vasculhar minha vida
pregressa.
Minha dívida, reconheço, é apenas comigo mesmo, que não
soube derramar seu amor sobre as mulheres que conheceu. Elas devem ter pensado
em indiferença, já que eu vivia no mundo da lua. Me roía por dentro e não fazia
nada por fora.
Eis que me transformei num lobo solitário que não consegue
pegar o próprio rabo. Perdoem-me a indolência.
Na outra encarnação, se houver, prometo ser diferente,
pensar menos em Gisele Bundchen e mais em mim. Meu pai era sacristão e conheceu
minha mãe no coro da igreja. Tiveram dez filhos. Queria que eu e meus irmãos
fôssemos padres, mas nenhum de nós topou. Nem por isso entregamos nossa alma ao
diabo. Conheci todos os pecados do mundo e os paguei aqui mesmo, um a um.
Resta-me fazer uma oração.
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