POESIA EM TODA PARTE
Algum dia quis ser
poeta
e cometer muitos versos. Em noites claras de luar deitava no chão para olhar as
estrelas e saudá-las qual Bilac embevecido. Tinha uma musa, naturalmente,
talvez mais de uma, a inspirar poemas que hoje sei nem piores nem melhores que as
de todos os tempos e lugares.
Descobri muito depois
que poesia não é só verso com ou sem rima ou palavras sonoras que se combinam
formando um conjunto de beleza gráfica e sonora, como um soneto. Pode estar em
qualquer paisagem, na mulher, numa obra de arte, até na voz, que o digam Elis
Regina ou Silvio Caldas.
Uma das coisas que
encantam é Olinda com seu casario colonial, suas ladeiras íngremes e o povo
desfilando o ano inteiro ao som do frevo bem ou mal interpretado. Pode ser que
em outros lugares do mundo haja manifestações parecidas, com outros ritmos e
outros objetivos, como a festa do tomate na Espanha, por exemplo, mas a alegria
de Olinda é única, não necessita de muito dinheiro, de nenhuma roupa especial,
só um pequeno short ou sutiã cobrindo as chamadas partes íntimas – e lá se vai
o povo de todas as idades e gêneros em desenfreada alegria.
Recife é riquíssimo em
poetas, não apenas de versos líricos, mas também de uma causa, como Marcelo
Mário de Melo, que editou um “Dicionário Poético Militante”. Talvez um crítico
ortodoxo não valorize seu trabalho, não importa. O que interessa é a missão. Ao
dedicar seus versos, MMdeM relembra um a um conhecidas vítimas de 64, conhecidas
ou não do grande público. Como não ver poesia na obra de Joana Lira, nas
crônicas de Fátima Quintas, na obra de Abelardo da Hora ou nos quadros de
Romero Figueiredo?
É verdade que nem tudo
é poesia. Há momentos em que a lua se esconde, as margens dos rios se tornam fétidas
e os diálogos áridos. Nessas horas o ideal é manter a calma, se possível. Não
há poesia nisso, nem no desespero. Não obstante, prefiro ver ou sentir poesia
em tudo, até nas baronesas e detritos que desfilam nas enchentes do Capibaribe.
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