PERNAMBUCANOS IMORTAIS
Se há alguma coisa que
detesto é comentar um livro após ler as orelhas, a contracapa e o prefácio ou
algo que o valha. Além da óbvia desonestidade, corre-se o risco de desprezar,
involuntariamente, aspectos importantes de uma obra. Além de incompleto, apresentando
falhas que o leitor atento irá notar, fica a impressão de que o trabalho foi
feito às pressas, para cumprir prazo a qualquer custo. Outra dificuldade habitual
ocorre quando o comentarista tem limites de tempo e de espaço para explicar
porque determinado livro é bom ou não. Sem esquecer o comprometimento no caso
do crítico ser ao mesmo tempo contemporâneo do autor e desfrutar de certa
intimidade com ele, tendo trabalhado lado a lado, frequentado os mesmo bares ou
ambientes e até admirado as mesmas meninas, pelo menos na juventude.
É exatamente o que
ocorreu quando me dispus a escrever sobre “Pernambucanos imortais e mortais”,
de Aluízio Falcão, lançado recentemente pela Cia. Editora de Pernambuco. Suas
376 páginas, graficamente trabalhadas por Ricardo Melo e equipe, constituem um
agradável passeio pela história de Pernambuco, principalmente no Século XX,
quando ocorrem os principais fatos relembrados. À exceção de Joaquim Nabuco e
Frei Caneca, a maioria dos biografados foi ou ainda é amigo do autor e foi
entrevistado por ele em algum momento, não necessariamente para este livro.
Mas o leitor não espere
uma biografia convencional, tipo nasceu no dia tal em São José do Egito. O que
interessa ao jornalista-escritor são as ideias de cada um. Gregório Bezerra era
cristão e não sabia; Agamenon era o comandante chinês do sertão; Dom Hélder
Câmara, o pastor das horas amargas, e assim por diante. A cada um é atribuída
uma qualidade já conhecida e às vezes uma faceta desconhecida. Pode conter
também alguma estória de mesa de bar, em que Aluízio era exímio. Eu mesmo
testemunhei algumas dessas tertúlias, das quais participavam, entre outros,
João Alexandre Barbosa, Gastão de Holanda e Renato Carneiro Campos. Eu apenas
ouvia. Eventualmente, narrava algo para o Jornal de Letras, de Elysio Condé, do
qual era correspondente apenas pelo prazer de conviver com os escritores.
Aluízio se supera
quando usa sua “quota pessoal”. Sem esnobismo, expõe as dificuldades que
enfrentou em 1964, quando contou com a ajuda de Ivanildo Porto no Rio e em São
Paulo, onde se associou a Marcus Pereira, lançando uma gravadora. Outro
capítulo memorável é a história do jornal Última Hora/Nordeste, em que me
insiro, modéstia à parte.
Não somos imortais, com
certeza, mas temos algo em comum com todas essas histórias. Até hoje, por
exemplo, vivemos no “exílio” paulistano, onde criamos filhos e netos, sem
prejuízo das raízes.
Comentários
Postar um comentário