TUDO NUM CLIQUE
Não creio que um linguajar chulo sirva para conquistar
adeptos. Para mim, diminui a credibilidade do autor, revelando o desejo de
ferir os interlocutores a qualquer custo. Tudo bem que a situação exige um
basta, mas reduzir tudo a um palavrão é ausência de projeto, explosão inútil,
destempero.
É o que sugere certos pronunciamentos sobre a situação
política nacional. Revela-se ausência de erudição dos que se manifestam.
O que quero dizer é que não consigo me dar conta de nada,
inclusive de onde estou me metendo, ao clicar durante horas nessa máquina de
fazer doido. Estamos mergulhando na
cultura do clique. Seria preciso ler um livro inteiro para aprender alguma
coisa. Mas não. Agora, basta clicar no Google e pronto. Basta escrever qualquer
coisa. Tudo num clique.
Daí não concordar com a maioria dos que se lançam com muita
sede ao pote, produzindo frases de efeito contra tudo e contra todos, em fase
eleitoral tumultuada e passageira. Concordo que não é hora de ficar calado nem
de votar em branco, mas o Brasil ideal passa longe das promessas grandes demais
para se realizar. Ficar no possível seria de bom tamanho.
Esfaquear alguém é o mesmo que dar murro em ponta de faca, na
mesa ou no vento. Mandar todo mundo pr’aquele lugar pode servir como desabafo,
mas não vai tirar ninguém do vermelho. Já se foi o tempo em que bastava ir para
São Paulo ou para a Amazônia em busca de ouro. Nem adianta recorrer a um tango
argentino.
Para sair do buraco, cada um deve prover seu sustento de
forma criativa, inteligente, nova, sem necessariamente atropelar alguém, nem
mesmo o pior inimigo. Não pensem que virei crente – era assim que xingavam os protestantes
que pregavam a palavra de Deus no Interior – ou que resolverei tudo como num
Editorial do Estadão. Não sou editor de nenhum veículo, muito menos de mim
mesmo.
Creio apenas na Natureza e procuro fugir das intempéries
como o diabo da cruz. Como dizia o poeta Daniel Lima, “o tempo gastará tua memória,
como gastou a tua vida”. Em breve seremos apenas pó. Num clique.
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