REENCONTRO APÓS 54 ANOS
Celso Marconi e eu fomos
ao Arquivo Público do Estado de Pernambuco consultar nossos respectivos
prontuários, elaborados por ocasião de nossa prisão em 1964. Celso era crítico
de cinema, conhecido por seus excelentes comentários, feitos com isenção e
conhecimento de causa e publicados nos principais jornais da capital. Nesses 54
anos, reencontrei Celso apenas uma vez, quando de sua visita a São Paulo 15
anos atrás.
Minha atividade, após
período como repórter geral, era descrever as sessões da Câmara Municipal
diariamente no jornal Última Hora, onde trabalhei do primeiro ao último dia de
sua existência. Era também assessor de imprensa da Prefeitura.
Para os militares, não éramos
apenas jornalistas. Éramos perigosos subversivos, que trabalhavam para
implantação de um regime comunista no país. Celso era mais perigoso: assinara
manifestos de intelectuais em solidariedade
a Miguel Arraes de Alencar e ostentava uma barba suspeita. Eu estava mais para
playboy, pois residia no edifício Holliday em Boa Viagem, onde passava noites
memoráveis. Porém, tinha ido a Cuba em janeiro de 1963 e frequentava a
Sociedade Amigos da União Soviética, em companhia do médico João Plutarco,
secretário de Saúde do prefeito Pelópídas Silveira.
Estava tudo lá,
anotadinho, para a hora do interrogatório. De mim, especificamente, queriam que
eu nomeasse os jornalistas que pertenciam à “célula” do Partido Comunista
Brasileiro. Claro que eles sabiam os nomes, conhecidíssimos, mas queriam que
alguém os citasse nominalmente. Resisti. Não sei se teria resistido se fosse
torturado. Alguns dias depois o DOPS publicaria nota oficial em que outro
jornalista enumerava os colegas que integravam tal “célula”. Meu nome não
estava lá. Queriam alguém que dedurasse os companheiros, como forma de
desmoralizá-lo.
Trinta dias depois fui
libertado com a recomendação de não sair do Recife, pois poderia ser convocado
a depor novamente a qualquer momento. Corri para São Paulo, onde moro até hoje.
Celso saiu mediante habeas corpus concedido pelo Supremo e ainda hoje mora em
Olinda.
O reencontro foi
proporcionado pelo jornalista Evaldo Costa, que está produzindo um documentário
sobre o dia 1º de abril de 1964.
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