ROMERO FIGUEIREDO, O ÚLTIMO COMUNISTA AINDA VIVO

Lenine, por Romero Figueiredo
Uma das coisas mais difíceis ao analisar uma personalidade é separar o artista do homem. Parece impossível. Qualquer trabalho, principalmente o artístico, reflete necessariamente o pensamento e as tendências de alguém que se formou necessariamente a partir das influências do meio. Para o psicanalista João Figueiró, a personalidade se configura durante os primeiros anos de vida, quando a criança absorve tudo em torno. Para defender sua tese ele criou o Instituto Zero a Seis, dedicado à propagação da ideia de educação infantil nos primeiros seis anos de vida. É nesse período, segundo aquela organização, que se moldam as características de uma pessoa. No caso de Romero Figueiredo isso parece claro. Ele cresceu vendo nu artístico na sala de casa. Seu pai, advogado Henrique Figueiredo, mantinha na sala um enorme quadro, sem autoria conhecida, em que uma mulher inteiramente nua expunha todas as suas intimidades. Todas. Alguns anos depois, Romero passou a misturar as influências político-literárias com impulsos de pintor. Parte do dia dedicava à leitura dos clássicos do comunismo, outra parte buscava na mulher uma fórmula de extravasar o que lhe corroía o íntimo, a partir da visão extravagante a que se acostumara desde a primeira infância. Aos 81 anos, ainda em franca atividade, o artista se associa ao político, buscando inspiração em mulheres para exteriorizar pensamentos enrustidos. Daí a frequência com que Romero Figueiredo reveza a feitura de impecáveis retratos de amigos com quadros de nus imaginários. Quando o Facebook lhe pergunta diariamente no que ele está pensando, Romero escreve, quase paranóico: “naquilo”, “numa linda mulher”, ou frases do mesmo gênero.
Romero foi casado durante muitos anos com a colegial que o seduziu na juventude e com ela teve cinco filhos; viúvo há mais de dez anos, deixou-se impregnar por um convívio tão marcante quanto inesquecível. Seus quadros contêm nudez da própria vida. Assim, parece inseparável a constatação de fato comum a algumas pessoas: um caso de dupla personalidade. De um lado, o homem político, ainda hoje dedicado a uma causa. De outro, alguém em busca de um ideal artístico igualmente não alcançado. Quando surge uma oportunidade de manifestar-se em pronunciamentos públicos ou entrevistas, Romero Figueiredo não hesita em revelar sua crença nos ideais políticos que abraçou desde a juventude. Pode não ser o único nem o último comunista ainda vivo. Mas é com certeza o mais convicto.

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