O QUE TEM O FILHO DE OLIVIA BYINTON?


Não reconheço com facilidade os sucessos de Olívia Byington, embora ela transite com desenvoltura entre os nomes de prestígio, ao lado de Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Tom Jobim, Nara Leão e demais “monstros sagrados” da MPB. Falar em Olívia Byington é no mínimo sinônimo de bom gosto, especialmente quando o assunto é música.
Não à toa, ela nasceu e viveu num apartamento de 700 m2 em plena Copacabana e até hoje seu mundo é o de Ipanema e proximidades, convivendo com grandes nomes da sociedade. Em 1981, ao nascer seu primeiro filho, João, quem lhe comunicou o nascimento foi o mais famoso cirurgião plástico do país, Ivo Pitanguy, que foi ao quarto para lhe dizer: - Parabéns, é um meninão! 
Pitanguy não era obstetra, mas estava ali como grande cirurgião plástico e poderia intervir cirurgicamente, se necessário.  O menino tinha uma doença rara, Síndrome de Apert, um caso em 600.000 partos, que passaria por dezenas de cirurgias para corrigir uma série de anomalias congênitas. Em sua condição social e com as amizades de que dispunha, a mãe poderia livrar-se do bebê, mas recusou todas as insinuações ou sugestões nesse sentido.
Sua explicação é clara: “Quem tem um filho especial acaba dividindo a humanidade em duas partes: a que é legal com o seu filho e a que não é.” Daí sua confessa gratidão a pessoas como Marieta Severo que, ao visitá-la pela primeira vez colocou o menino no colo e disse: “Parece um senador”. Ela jamais esqueceu o gesto e a frase. 
Olívia levou às últimas consequências a condição de mãe especial, bem como acompanhou a sucessão de mudanças de terminologia que visam acabar com preconceitos. Já não se fala, por exemplo, em pessoas com deficiência, portadores de deficiência. Defende-se a integração. Pergunte a ele o que é que ele tem, aconselha Olívia, quando alguém se dirige a ela.
O que ela não explica, ou até explica demais, é onde uma artista brilhante busca forças todos os dias para enfrentar preconceitos e desfilar orgulhosamente seu filho nas calçadas de Ipanema ou nas avenidas de Nova Iorque, com a segurança de mãe responsável. Talvez essa confiança venha dos outros filhos normais e da beleza de cantora e compositora em que se consagrou. 
O depoimento desse livro é um dos mais pungentes que já li. Não contém lamúrias, não a transforma em mártir, não tem nenhuma lágrima. Deve ser lido por qualquer pessoa, principalmente por quem não tem filhos especiais.

Recife, 9/02/2017. 

Comentários

  1. TESE DA SOLIDÃO NÃO RESISTE AO DECOTE

    Algum dia me senti sozinho, olhando as paredes ou os vizinhos a caminho da luta. Até o dia em que pintou no pedaço a Internet. O rádio ajudava, mas agora podemos responder, intervir, compartilhar, tudo ao vivo e a cores. Não há espaço para a tristeza, a não ser que queiramos propositadamente nos enganar com a saudade. É verdade que já tentei fazer apologia da solidão, páginas inteiras reescritas várias vezes com ajuda de psicólogas, mas o entusiasmo pelo assunto só durava enquanto escrevia. A primeira psicóloga que consultava destruía minha tese mambembe. Bstava o decote, nem precisava argumentar.
    Lembro também da ousadia de escrever em jornais: "o presidente da República, João Goulart"... como se eu fosse parceiro dele, amigo, alguma coisa assim. Nenhum respeito a maior autoridade do país, ou melhor, do País, com "P" maiúsculo, como mandava o figurino. Mal sabia que as regras valem mais do que as leis, em certos casos. A informalidade do jornalismo é maior do que a formalidade das leis retógradas. Fora as leis. Viva as regras.
    Algum dia quis ser médico. Depois de 30 dias conhecendo as maravilhas da revolução comunista de Cuba, levado pela generosidade do amigo Francisco Julião Arruda de Paula, faltei ao embarque na esperança de morar no edifício de los Becados (bolsistas) e cursar Medicina de graça e sem vestibular. Mero sonho. Faltava um ano para concluir o segundo grau, condição óbvia para entrar na universidade. Empurram-me de volta ao Brasil no primeiro voo, para concluir o secundário no Colégio Estadual de Pernambuco, tradicional escola do Recife onde conheci líderes estudantis e o professor de história Amaro Quintas, pai de Fátima, até há pouco presidente da Academia Pernambucana de Letras.
    Algum dia quis ser músico. Meu pai tocava violino e minha mãe era corista na igreja matriz de Chã Grande e depois na de Gravatá, onde nasci. Comecei a estudar solfejo com Manoel Bombardino, maestro da Corporação Musical XV de Novembro e pai de Adelson Pereira, atual baterista da Spok Frevo Orquestra. Nunca fui além das serestas à Silvio Caldas com o cantor (na verdade pintor) Romero Figueiredo. Sabia primeira, segunda e terceira de lá menor e alguns acordes dissonantes.
    Algum dia quis ser jurista. Fui aluno de Franco Montoro na Faculdade de Direito de Guarulhos e na FMU, onde só não fiz jus ao diploma por causa de algumas dependências. Às vezes trocava as aulas da classe por lições de vida nos botecos do Bixiga, cheios de nordestinos com peixeras a tiracolo. A lei da faca. Na redação de O Estado de S. Paulo, Clóvis Rossi, Ludenbergue Góes, Ricardo Kotscho, entre outros, convenceram-me a manter-me como jornalista, profissão que me propircionou a compra de um Dauphine 63 e de um apartamento de 70m2 do BNH, onde ainda moro. O primeiro carro e o primeiro apê a gente nunca esquece, não é mesmo?
    Algum dia quis ser bem casado. Já andava meio cansado de lançamento de livros, discos e demais eventos lítero-musicais quando fui buscar uma namorada lá nos confins de Jataúba, sertão de Pernambuco. Deu trabalho a convencê-la a morar em São Paulo, sendo ela arrimo de família, etc., mas consegui. Trouxe-a no meu Dauphine 63 e tivemos dois filhos maravilhosos, que nos deram três netos idem cada um. Mas o casamento, o nosso, não durou para sempre. Daí a tese da solidão. Bem que tentei concluí-la, mas nenhuma psicóloga concordou. Bastava mostrar o decote. Adeus solidão!

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