INDIGNAÇÃO DO DIA
Todo dia a gente sofre alguma indignação. A indignação do momento
é contra os vereadores do município de São Paulo, que aprovaram um reajuste da
ordem de 26% de seus próprios salários, num momento em que a maioria dos
servidores públicos não vem tendo nenhum reajuste, sequer correção da inflação,
e muitos estão sem receber seus salários, porque alguns Estados ou Municípios
estão sem dinheiro. E como todos sabem, estão sem dinheiro por causa de incúria
administrativa e corrupção generalizada.
Há algum tempo deixei de fazer coro a manifestações contra
ou a favor de qualquer coisa, descrente de sua eficácia, embora sabedor de que a
omissão é tão deletéria quanto a falta de atitude. Nunca empunhei uma arma,
exceto quando o serviço militar impôs treinamento e exercícios de tiro, como
preparação para defender a Pátria.
Quando me arvorei de soldado de uma Revolução, fi-lo na
condição de que tal mudança deveria ocorrer através das ideias, nunca pelo tiro
que dizimaria seres humanos. Os estatutos do Partidão eram claros em relação à
necessidade de evitar confronto armado, privilegiando a argumentação, o
convencimento verbal.
Chegamos a uma situação em que não há maioria silenciosa.
Esquerda e Direita se manifestam livremente, não apenas com armas verbais, mas
com socos e ponta-pés, além da destruição de fachadas de prédios e outras
edificações públicas e particulares, comerciais e artísticas. A Polícia
vangloria-se de assegurar o direito de manifestação. Algumas vezes ela exagera
na repressão, outras vezes se omite diante de vandalismo explícito. Assim, ora
é criticada por não impedir a depredação e a violência das manifestações, ora é
acusada de ferir os direitos do cidadão, jogando bombas de gás lacrimogêneo ou
bombas de efeito moral contra a multidão.
Assim, nada mais justo do que expressar indignação por meio
de palavras, gestos, hinos e até por meios artísticos nossa revolta diante de
tanta injustiça e tantos desvios de conduta, revelados nos últimos anos com o
avanço da democracia.
O único porém é que hoje são os vereadores de São Paulo, como
ontem foram os vereadores de Embu das Artes, os de Caruaru e os de Osasco. No
caso de Caruaru, alguns foram presos, perderam o mandato, depois foram soltos e
retomaram seus postos, por decisão da própria Justiça que os condenou e
afastou.
Por outro lado, já se conhece o que aprontaram alguns
deputados federais e senadores. Corremos o risco de transformar em horária a indignação
do dia. Quem sabe teremos novas revelações a cada minuto. Assim, chegamos à banalização
das denúncias, quando os réus não terão mais sentenças e as panelas, os slogans
e demais instrumentos serão recolhidos para sempre. Resta-nos esperar que isso não aconteça jamais.
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