COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Mesmo considerando que janeiro
é mês de férias, impressiona o movimento verificado nos restaurantes, shoppings,
ruas e demais recintos públicos do Recife. O movimento mostra enorme disposição
de consumo, bem como expressões de alegria, gosto pela vida, comunicabilidade
em geral, independente da condição social dos diversos grupos que circulam pela
cidade. Testei pessoalmente, em diferentes circunstâncias, o desejo das pessoas
de responderem perguntas e encontrei a maior boa vontade. Todos querem dar
informações, conversar, ajudar, colaborar, como se tudo estivesse às mil
maravilhas. Chego a me perguntar: crise? Que crise?
Se isso confirma a
hospitalidade do povo pernambucano, desmente, por outro lado, as teorias
econômicas que apontam a situação do país como catastrófica. Salvo engano, tudo
está maravilhoso sob o sol do Equador, se levarmos em conta o clima de
entusiasmo que predomina nos bares do Recife, particularmente nos mais
populares. Não acredita? Percorra os bares à beira-mar plantados, ao longo de
Brasília Teimosa, a qualquer hora. Em todos os shoppings que visitei era
difícil encontrar mesa vazia nas praças de alimentação.
Os economistas, no entanto,
lembram com insistência o déficit da Previdência, os buracos do orçamento
público, o quebra-quebra geral dos Estados e das prefeituras, que vem de longa
data mas se agravaram nos últimos anos. Outros grupos responsabilizam a grandiosidade
do Legislativo com seus gastos estratosféricos. A Política afunda a Economia,
no entendimento de parte da população, revoltada com os rumos da sociedade.
Nos bares do Recife predominam
o calor e os ritmos carnavalescos. Prevalecem a vontade de festejar qualquer
coisa – noivado, batizado, casamento, bodas diversas – como se não houvesse
amanhã. Ninguém se preocupa com estudos, com economia doméstica, com o futuro
em geral. Não consigo entender a fila para a compra de veículo de luxo,
fabricado em Pernambuco, no valor mínimo de R$ 80 mil. Temos uma população que
vive de Bolsa Família e outra que entra em fila para comprar carro de luxo, com
ar-condicionado e câmbio automático.
Tomara que essas reflexões
sejam considerações delirantes de alguém com a cabeça fervente, face à alta
temperatura que nos abrasa.
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