O ACERVO DE ASSIS ÂNGELO
Edições esgotadas
Visitei ontem o jornalista,
pesquisador, poeta e escritor Assis Ângelo, em companhia do amigo comum Danilo
Queiroz da Silva. Constatei seu bom humor característico e sua incrível vontade
de continuar escrevendo em seu blog e no Facebook, mesmo com as dificuldades
comuns a um deficiente visual. Para fazer seus textos, ele depende de uma
visita que se disponha a digitá-los. Ontem foi minha vez. Digitei seu blog.
Assis Ângelo continua o brincalhão de
sempre, sem papas na língua, esbanjando conhecimentos acumulados em anos de
experiência como repórter, redator e editor de diferentes órgãos de imprensa
(Estadão, Folha, Rede Globo, etc.) e escritor. Escreveu três livros sobre Luís
Gonzaga – “Dicionário Gonzagueano”; “Eu vou contar pra vocês” e “ Lua Estrela
Baião A história de um rei” (para crianças); um sobre Demônios da Garoa
(Pascalingundum!); “O Coronel e a Borboleta” e “Nordestinados”, os dois últimos
de causos e histórias nordestinas. Fez ainda um livro sobre a música no
futebol, outro sobre Inezita Barroso e mais um sobre Carlos Gomes. Todos
esgotados.
Convivemos durante alguns anos quando
ele tentava viabilizar reportagens sobre saúde na TV Globo – ele querendo
sempre mais, eu colocando as limitações éticas de praxe, até obtermos um
consenso. A emissora sempre vencia as batalhas, usando o magnetismo das
reportagens, que mordendo e assoprando, deixava os médicos aparentemente
satisfeitos.
Além dos lanços profissionais
propriamente ditos, as atividades de Assis Ângelo me atraíam por suas ligações
com o Nordeste. Nascido em João Pessoa, no início de sua carreira ele trabalhou
no primeiro jornal diário Caruaru, onde vivi parte de minha juventude.
Quando iniciei pesquisas sobre
Taiguara, Assis Ângelo me abriu seus arquivos e sua memória, com dados
importantíssimos. Assis e Taiguara varavam a noite paulistana em tertúlias
movidas a vários drinques. Além disso, como repórter da Folha, Assis o
entrevistava com frequência, daí meu interesse em beber naquela fonte.
De tanto pesquisar sobre música,
Assis Ângelo criou o Instituto Memória Brasil, que reúne milhares de livros,
discos, revistas e jornais sobre a cultura brasileira, especialmente sobre
música. Se não chega a ser uma biblioteca Mindlin (incorporada à USP), nem a
biblioteca de José Ramos Tinhorão (incorporada à Fundação Moreira Salles),
constitui um acervo nada desprezível, mesmo diante da facilidade que a internet
oferece hoje a qualquer pessoa.
A questão, no momento, é encontrar
uma entidade que se interesse por tal acervo, por um preço justo. Mais difícil
ainda é sensibilizar um mecenas que patrocine um pesquisador que também é
artista e algum dia foi também radialista.
Atualmente, Assis Ângelo vem
declamando poesias para as paredes ou para a janela de seu apartamento da Rua
Eduardo Prado, Campos Elísios – São Paulo. É quase um novo Patativa de Assaré,
sobre quem já escreveu e cujos poemas declamava em seus programas de rádio.
Quanto aos nossos diálogos para
viabilizar filmagens no hospital, sempre dava tudo certo. As filmagens eram
autorizadas com a condição de que fossem respeitados os limites éticos – por
exemplo, não mostrar a cara do paciente. Era exatamente isso que a emissora
fazia, invariavelmente, para desespero do assessor de imprensa, que por justa
causa. Não por culpa de Assis Ângelo, mas após 20 anos de penosa luta para
aproximar médicos e jornalistas s. Mas isso é outra história, que não cabe no
máximo em minhas pobres memórias, nunca no Instituto Memória Brasil.
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