EXCERTOS
JESUS CRISTO
Por incrível que pareça já fui
comparado a Jesus Cristo. Foi assim. De vez em quando almoçava ou jantava na
casa de Hiram de Lima Pereira, na rua Imperial. Hiram, para quem não sabe, era
um dos secretários da Prefeitura do Recife, quando Miguel Arraes era prefeito,
e eu era repórter do jornal Última Hora/Nordeste. Além da oportunidade me
manter informado sobre assuntos municipais, tinha o encanto de conversar com
suas lindas filhas. Só que eu ficava muito tempo em silêncio. Morria de
vergonha e não podia falar que era apaixonado pelas três meninas. Daí o
desabafo de Hiram:
- Porra, você parece Jesus
Cristo! Só vai falar aos 33 anos?
NARA LEÃO
Quando Nara Leão vinha a São Paulo para se apresentar em algum programa de
televisão combinávamos, por sugestão dela, ir buscá-la no aeroporto de
Congonhas e levá-la ao hotel. O trajeto era o tempo que eu dispunha para
entrevistá-la para a revista Intervalo (Editora Abril). Aí, ocorria o seguinte:
ela fazia mais perguntas do que eu, inteligente que era. E eu me deliciava com
sua irradiante doçura. Ela queria saber, basicamente, qual a receptividade do
paulistano ao tipo de música que ela fazia. E eu dizia: total!
FERNANDO MORAIS
Conselho do amigo José Louzeiro, em 1998, quando buscava dados para uma
possível biografia de Taiguara: “Não se limite a ouvir os familiares e
quando o fizer, cuidado com o oba, oba. Faça os opositores falarem, a fim de
gerar os indispensáveis conflitos. O certo e o errado é que humanizaram a
história. Lembre-se de Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais.”
ALTEMAR DUTRA
Convidado a dizer algumas palavras ao entregar o Troféu Imprensa a
Altemar Dutra, no pomposo auditório da TV Globo, na praça Marechal Deodoro,
década de 60, cometi a indiscrição de afirmar que se tratava de mais um a ser
colocado na sala já apinhada de outros troféus que acabara de ver na casa dele.
Centenas. Silvio apressou-se a tomar o microfone. Desculpa esfarrapada: o
uísque rolou no camarim durante a longa espera para a solenidade. Ao entrarmos
no palco, difícil era saber quem se apoiava no outro.
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
Pouco antes do golpe de 1964, quando a todo momento explodiam
manifestações ruidosas no Rio de Janeiro, o chefe de reportagem de Última Hora
me mandava ao Comando Militar do Nordeste, então no Parque 13 de Maio, Recife,
perguntar a opinião do comandante sobre a situação política do País. Não
adiantava alegar que era uma missão impossível, pois todos sabíamos que militar não gosta
de dar entrevista. Mas eu era obrigado a consultar o comando pessoalmente. Era
recebido pelo próprio comandante, que me expulsava educadamente do recinto,
afirmando que não ia falar. Essa troca de gentilezas foi útil quando
questionado no DOPS sobre minha periculosidade como agente subversivo.
Consultada, a 2ª seção confirmou minha tendência pacífica, com base nas
investidas de repórter insistente, mas cordial. Nem conhecia a tese de Sérgio
Buarque de Holanda sobre o homem brasileiro.
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