CIDADÃO DE CARUARU
PRONUNCIAMENTO DURANTE HOMENAGEM
DA
CÂMARA MUNICIPAL DE CARUARU
(3/02/2015)
Ao ser informado de que a Câmara Municipal de
Caruaru havia me concedido o título de Cidadão Caruaruense, tentei buscar no
inconsciente as razões que motivaram o Vereador Leonardo Chaves a outorgar-me
tamanha honraria.
As primeiras suposições me conduziram ao fato de que
eu escrevia artigos e poemas no Jornal do Commercio, no Diário de Pernambuco,
em A Defesa, no Jornal do Agreste e na Vanguarda, na maioria das vezes sobre
Caruaru, quando não em defesa de Caruaru.
Lembro com clareza o dia em que entreguei a Mauro
Mota, editor do Diário de Pernambuco, um poema em homenagem a Caruaru. Ali
mesmo, no elevador, ele leu e releu o poema, e confessou-se surpreso com meu nome.
Afirmou que gostara da sonoridade do meu nome,
repetindo-o: Flávio Tiné.
Até hoje não sei o que ele quis dizer exatamente com
isso, ou seja, é possível que ele tenha gostado mais do meu nome do que do
poema? Não sei. O fato é que no dia seguinte o poema estava lá: Ode a Caruaru,
em que eu prestava uma homenagem à terra em que floresceram minhas primeiras
emoções. Na primeira oportunidade, mostrei a página aos frequentadores do Bar
Savoy.
Animado com o feito, em outra ocasião levei outro poema
ao editor do Jornal do Commércio, Eugênio Coimbra Júnior, que também
frequentava as mesas do Savoy. No domingo seguinte o poema foi publicado com
uma ilustração a cores. Imaginem o meu ego. Inflou mais que balão de São João.
Na segunda-feira seguinte, por volta de meia-noite, apressei-me a agradecer ao
editor, que se juntou ao nosso grupo na mesa do bar.
Ele usou de toda sinceridade:
- Quer saber, Tiné? Eu estava precisando fechar o
caderno na sexta-feira, puxei teu poema de uma gaveta e a ilustração de Ladjane
de outra. Pronto. Nem li direito o poema, que se chamava “Ausência”.
Como testemunho de meu amor
à cidade, tenho felizmente vários amigos, alguns aqui presentes, como Assis
Claudino, Romero Figueiredo, Manuel Messias, Arnóbio Costa, Anastácio
Rodrigues, Ivanildo Santos, Paulo Casé, Antônio Miranda, Luís Teófilo e muitos
outros. Alguns frequentaram comigo a Associação Cultural de Caruaru, onde
discutíamos desde o sexo dos anjos até o momento político. Lembro-me de uma
aula de biologia em que se explicava minuciosamente a vida sexual do homem e da
mulher. O professor era Vital Maria da Costa Lyra, que se preparava para o
vestibular de Medicina. Hoje, como se sabe, ele é diretor de importante
laboratório no Recife.
Não poderia deixar de
agradecer aos professores Edvalda Leite de Miranda e Hélio, que, mesmo à
distância, acompanham e divulgam meus trabalhos, valorizando os pequenos meios
que utilizo para preservar o amor à cidade e aos amigos que deixei pelo
caminho.
Ainda no capítulo dos
agradecimentos não poderia esquecer a família Siqueira, de Jataúba, da qual faz
parte Paula Frassinete de Queiroz Siqueira, mãe de meus dois filhos: Flávia,
analista de sistemas, e Paulo, professor titular de música da Unicamp, que não
puderam me acompanhar nesta jornada, por causa de compromissos profissionais.
Meus agradecimentos aos
ilustres vereadores, em especial ao vereador Leonardo Chaves, que conviveu com
meu irmão, Vital Maria Tiné, nesta mesma Câmara em que foi funcionário, antes
de militar no Fórum como advogado. O Dr. Leonardo Chaves é um exemplo de
perseverança, mantendo-se no Plenário da Câmara há 40 anos e reeleito
presidente mais uma vez. Conviver com interesses tão variados durante tantos
anos é no mínimo uma arte.
Ao lembrar meu irmão
Vital, não poderia deixar de mencionar Adelmo, que foi jornalista e
apresentador na Radio Difusora de Caruaru e posteriormente na TV Jornal do
Commercio, bem como assessor do prefeito José Queiroz. Como Adelmo e Vital, já
se foram Maria José e Susana, restando os outros irmãos aqui: Suely, Conceição,
Maria da Glória e Ricardo.
Outros Tiné estão
prestigiando esta homenagem, todos com ascendência na Serra Velha, conforme
Árvore Genealógica montada por Roberto Tiné e à disposição no Facebook. A todos
muito obrigado.
Em todas as redações e
cidades por onde andei procurei ser útil a Caruaru, encaminhando seus pedidos e
divulgando seus feitos e seus homens, como uma espécie de cônsul informal,
humilde e voluntário, sem exigir nada em troca. Muitas vezes busquei
pessoalmente o apoio dos irmãos Condé no Rio de Janeiro, de Luís Torres e
Fernando Lyra em Brasília, para encaminhar e defender pedidos da cidade. No
Incor e no Hospital das Clínicas de São Paulo, dos quais era assessor de
imprensa, também ajudei muitos caruaruenses, numa época em que o atendimento
médico era precário. Hoje, Caruaru tem até Faculdade de Medicina.
Ao finalizar, agradeço
de coração esta homenagem. Se não houvesse nenhum mérito neste trabalho de
formiguinha que desenvolvi ao longo dos anos, bastaria a alegria de rever os
velhos amigos aqui presentes. Como diria o amigo e primo Roberto Tiné, com
perdão da rima inevitável, esta é a terra dos Condé, dos Casé e dos Tiné.
MINIBIOGRAFIA
DE FLÁVIO TINÉ
Visita
a Cuba
1962
- Como redator do Jornal do Bancário e representante do Sindicato dos Bancários
de Pernambuco visita Cuba a convite de Francisco Julião. A caravana de
brasileiros é recebida por Fidel Castro e Che Guevara durante encontro
exclusivo de várias horas. Percorre a ilha durante 30 dias, em companhia de
Caio Prado Jr., Germano Coelho, Arthur Lima Cavalcanti e Liana Aureliano, entre
outras personalidades.
Governo Arraes
1962
- Entra no jornal Última Hora – Nordeste por concurso. Obtém registro de
Jornalista Profissional junto à Delegacia Regional do Trabalho, sob nº DRT-309.
Não havia exigência de diploma de curso superior. Atua paralelamente como correspondente do
Jornal de Letras no Nordeste, dos irmãos Condé, o que lhe dá oportunidade de conviver e entrevistar intelectuais
como Gastão de Holanda, Renato Campos, João Alexandre Barbosa, Gilvan Lemos,
Osman Lins E Mauro Mota, entre outros.
É
nomeado assessor de imprensa da Prefeitura do Recife, por indicação de Paulo
Cavalcanti, secretário de Administração do prefeito Pelópidas Silveira. Em 1964
é preso por 30 dias, sendo libertado após atuação do irmão, advogado Vital
Maria Tiné. Representante no Brasil do programa Aliança para o Progresso, Vital
mantinha relacionamento com a alta cúpula do Exército, aos quais convenceu de
que o acusado era apenas um jornalista preocupado com questões sociais.
EXÍLIO
VOLUNTÁRIO
Em
agosto de 1964, após quatro meses tumultuados, em que não faltaram episódios
tragicômicos, migrou para São Paulo, certo de que não teria vez no mercado de
trabalho pernambucano, onde os jornalistas eram estigmatizados pelo apoio a
Miguel Arraes de Alencar. Seu primeiro emprego é na Editora Abril, onde
trabalha inicialmente em duas revistas técnicas, Transporte Moderno e Máquinas
e Metais.
Um
ano depois é transferido para o grupo de revistas femininas, tornando-se
repórter e redator das revistas Contigo e Intervalo. Atua como jurado dos
programas de Chacrinha e Sílvio Santos e acompanha de perto programas como
Jovem Guarda e O Fino da Bossa, entre outros, convivendo com os principais
artistas da época – Roberto Carlos, Wanderléa, Antônio Marcos, Elis Regina,
Jair Rodrigues, Agnaldo Rayol, Eduardo Araújo e Silvinha, Ivan Lins, Altemar
Dutra, Gil, Caetano, Gal, Tomzé e Bethânia.
Participa
da fundação da Associação Paulista dos Críticos de Arte, na área de música
popular, mantendo coluna no jornal A Gazeta, com o pseudônimo de Zé Flávio.
ESTADÃO
Atua
como copy desk (redator) do jornal O Estado de S. Paulo, ao lado de Ricardo
Kotscho, Clóvis Rossi, Oswaldo Martins e Ludenberg Góes, entre outros, durante
os anos de chumbo, quando o jornal substituía as matérias censuradas por
receitas e o Jornal da Tarde – do mesmo grupo - por poesias. Sai algum tempo depois
que o jornal se transfere para o amplo prédio da Marginal Tietê, sendo obrigado
a tomar medidas rígidas, como demissões, para pagar dívidas da construção.
(Obs
– Nesta oportunidade mantém relações de amizade com Lenildo Tabosa Pessoa,
filho do educador Luís Pessoa, conhecido por seu radicalismo anticomunista.
Lenildo fora seminarista com Vital Maria Tiné, no tradicional Seminário de
Olinda, durante muitos anos. Sempre que ia a São Paulo, Vital visitava o amigo
Lenildo, tendo o jornalista como cicerone.)
DIREITO
Conclui
curso de Direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), mas não recebe o
diploma nem exerce a profissão, pois se considera bem sucedido como jornalista,
com emprego garantido sempre que se afasta ou é afastado de uma empresa.
COM
OS BANQUEIROS
A
saída do Estadão proporciona convivência com banqueiros. Por ironia, é
apresentado à diretoria do Unibanco por um comunista notório, Milton Coelho da
Graça. Monta o Jornal Unibanco, de 20 mil exemplares, destinado a consolidar a
imagem e o logotipo do novo banco, originário da União de Bancos Brasileiros,
do ex-embaixador Walter Moreira Sales. O Jornal Unibanco é premiado como o
melhor do gênero pela ABERJE - Associação Brasileira dos Jornais de Empresa.
COM
AS MULTINACIONAIS
Alguns
anos depois vai para a assessoria de imprensa da Siemens, onde monta outro house organ e divulga a construção da
usina de Itaipu, cujos geradores são fabricados pela multinacional alemã.
NO
SERVIÇO PÚBLICO
Em
1983 cria a assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. Durante 20 anos participa intimamente de
todos os eventos da entidade, divulgando-os junto à mídia. Sua atuação é
tumultuada pela internação de personalidades como Tancredo Neves e tragédias
comuns do dia- a-dia, já que o pronto-socorro do HC é referência para casos
graves.
Durante
este longo período torna-se amigo de grandes personalidades, como Henrique
Walter Pinotti, Adib Jatene, Marcos Boulos, David Uip (atual secretário de
Saúde de São Paulo) e outros mestres da Medicina. Tal aproximação é facilitada pela
simplicidade do assessor, que trata o eventual autoritarismo de alguns médicos
com naturalidade. No Hospital das Clínicas de São Paulo havia – e provavelmente
ainda há - a cultura da submissão, que consiste na obediência cega às
determinações do médico, ou seja, é o médico que dá a última palavra em tudo,
inclusive nos assuntos administrativos. Daí o título do livro de crônicas de
sua autoria, “Pois não, doutor!”, publicado em 1990 pela editora Vertente.
Publica
ainda, por iniciativa própria, os livros “Viver Tem Remédio”, pela Komedi, e
“As boas lembranças da luta”, pela Giz Editorial. Lança em breve mais um livro
de crônicas, desta vez pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), com o
título de “Memórias Escrachadas”.
Flávio
Tiné (e-mail: flavio.tine@gmail.com) Tel. 81-3427.3786 (Recife) ou 11-3611.4951
(São Paulo).
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