CUBA LEMBRA O QUÊ?


Embora persistam embargos econômicos, o reatamento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba é o começo de nova Era, pondo fim a uma injustiça que perdurou 53 anos. No momento em que Cuba volta às manchetes não custa relembrar o papel que esse pequeno país do Caribe exerceu sobre a juventude quando Fidel Castro derrubou a ditadura e implantou um novo regime político, inspirado na revolução socialista da União Soviética. Com erros e acertos, a verdade é que a maioria do povo cubano ainda hoje apoia o Governo, talvez porque não tinha alternativas, submetendo-se na época a uma escravidão pior do que a submissão dos negros no Brasil-Colônia. As mulheres se rendiam ao turismo sexual dos Estados Unidos e os homens viravam gigolôs para sobreviver ou permaneciam na eterna miséria dos canaviais. Tudo isso está na literatura da época.
A juventude brasileira ansiava por algo inovador. Ia às ruas para defender as liberdades, condenar o capitalismo desumano e as injustiças sociais, bem como para defender a Petrobrás sob o lema de o petróleo é nosso. Comícios políticos, eleições, passeatas, em qualquer evento social ou político surgia Cuba como a salvação da lavoura, digo, como exemplo de um país que se rebelou contra a exploração capitalista e todos os seus ingredientes, onde a prostituição era apenas um detalhe. Mansões e carrões norte-americanos faziam da ilha o mais luxuoso bordel do Caribe.
Logo depois da vitória de Fidel o Governo cubano costumava organizar caravanas de latino-americanos para conhecer de perto suas maravilhas. No Recife, os convidados para a viagem eram selecionados por Francisco Julião, criador das Ligas Camponesas. Numa dessas viagens fui encaixado como representante do Sindicato dos Bancários, onde era editor de um jornal dirigido por Gastão de Holanda, escritor e funcionário do Banco do Brasil.
Após visitar a ilha de uma ponta a outra, durante 30 dias, decidi ficar e tentar a Universidade de Havana, mas não obtive êxito na empreitada porque cursava o segundo ano colegial, não estando, portanto, habilitado para ingressar no curso superior. Dois fatores me atraíam: não havia Vestibular e o estudo e a estadia eram gratuitos.
Fiz então a maior loucura da vida: faltei deliberadamente ao embarque de volta ao Brasil, na esperança de reverter situação e concluir o colegial. Não consegui. Dias depois, as autoridades me arranjaram outro voo para o Rio de Janeiro, onde tive de pedir à Embaixada cubana uma passagem para Recife.
Dois anos depois Cuba me reservaria novas emoções. Morava num pequeno apartamento do edifício Holiday, fartamente decorado com motivos cubanos: fotos, cartazes, recortes de jornais, livros e as mais diversas recordações da viagem. A partir de 1º de abril de 1964 um grupo de policiais civis permanecia na portaria do prédio, prendendo um a um assessores dos governos estadual e municipal – Arraes e Pelópidas. Eu era assessor de imprensa de Pelópidas.
Fiz então arriscada operação de retirada. Combinei com amigos da PA-Polícia da Aeronáutica para me retirar do prédio como preso político da FAB, na condição de ex-cabo da instituição. Levaria todo material, que em seguida seria devidamente enterrado num quintal, livrando-me de prova material importante no caso de eventual prisão. De fato, quando preso, neguei qualquer vínculo com a subversão, sustentando que a viagem tivera apenas motivos jornalísticos. Assim, escapei da condenação e da tortura. 







 Caio Prado Jr. e Flávio Tiné na Plaza de la Revolución Jose Marti, Havana. Ao fundo palanque em que discursava Fidel Castro, no dia 1º de janeiro de 1962. 
Germano Coelho e esposa, com Liana Aureliano,à direita nas ruas de Havana. À esquerda, o guia turístico 

 












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