OS OUTUBROS DE TAIGUARA
A primeira biografia de Taiguara acaba de sair em meio à
polêmica sobre autorização, ora em discussão na Câmara e no Senado. No caso,
trata-se de trabalho encomendado pela família, que contratou a jornalista de
economia Janes Rocha, provavelmente com o objetivo de conseguir uma análise
isenta a respeito de uma carreira sabidamente controvertida.
Alguns universitários já fizeram teses de doutorado sobre
Taiguara e até livros, como é o caso de Bárbara Bigarelli, que ainda não lançou
de fato. Também pesquisei e fiz várias entrevistas, mas não consegui concluir
satisfatoriamente meu trabalho, por absoluta incompetência de lidar com o
intrigante universo taiguariano.
O interesse pelo assunto começou quando participei de um
curso sobre a arte de escrever, onde conheci uma das viúvas do cantor, Ana
Lasevicius. Como jornalista profissional, tinha alguma facilidade de escrever,
mas, ao mesmo tempo, era viciado na forma imediatista da notícia. Mesmo assim,
ali estávamos para aprender. O desafio foi lançado pelo professor.
Depois de cinco anos de pesquisa, nenhuma editora aceitou o meu
trabalho, que poderia ser negociado, ampliado ou corrigido segundo os
interesses do editor. Um deles chegou a me pedir para reescrever, alegando que
“faltava um personagem”. Outros alegavam fila de projetos e falta de autorização.
O lançamento do livro pela editora Kuarup é, portanto,um
fato auspicioso, por trazer à tona pela primeira vez a história de um lutador. Antes disso, nenhum
biógrafo consagrado, como Ruy Castro, Sérgio Cabral, Tárik de Souza, Ricardo
Cravo Albim ou Nelson Mota, nem mesmo jornalistas-escritores habitualmente
dedicados a esse tipo de experiência, como Assis Ângelo, Arley Pereira, José
Teles, Audálio Dantas, Aluízio Falcão, Regina Echeverria, Zuza Homem de Melo,
entre tantos outros – nenhum deles se deu ao trabalho de biografar Taiguara
Chalar da Silva. Por quê?
Curiosamente, Taiguara continuava vendendo muito, embora a
gravadora não revele números. Ousaria supor que restaram profundas sequelas das
constantes brigas enfrentadas com o aguerrido cantor, que não perdia nenhuma
oportunidade para reverberar contra a crueldade do capitalismo. Tudo isso é
relatado pelo competente trabalho de Janes Rocha.
Em suas cuidadosas inquirições, a autora de “Os Outubros de
Taiguara” refere-se a essa característica da personalidade do biografado. Teria
sido esse comportamento atípico o responsável pelo verdadeiro boicote que o
persegue até hoje?
Um dos aspectos mais apreciados pelos fãs do
cantor-compositor é beleza de suas músicas, embora nem tudo seja brilhante.
Para o sucesso com o público feminino contribui seu tipo cativante, doce,
romântico, que interessava às emissoras de televisão. Na real, porém, ele
sofria com a perseguição da censura e não perdia oportunidade de brigar, sendo radical
em favor das minorias.
O livro contém excelente documentação fotográfica, enfocando
os principais momentos de sua vida, bem como cópias de letras censuradas e
documentos relacionados à censura, com anotações autênticas. Paralelamente, foi
lançado um disco com gravações garimpadas pela família em diferentes situações
e remixadas. Um bom documento para seus admiradores.
Prezado Flávio, o trabalho da Janes, “Os Outubros de Taiguara”, não foi encomendado pela família.
ResponderExcluirAbraços,
Ana Lasevicius