QUEM VÊ "ELIS A MUSICAL" NEM PISCA OS OLHOS
Escrevo sob violenta emoção, depois de assistir Elis A Musical no Teatro Alfa - o teatro
em si uma obra de arte. É que acompanhei a carreira da Pimentinha na dupla
condição de fã e repórter de variedades. Com exceção de sua fase carioca, vi
quase todos os seus espetáculos nos teatros Paramount, TV Record e nos festivais.
No palco era de uma comunicabilidade e simpatia incomparáveis. No contato com
as pessoas não era a mesma coisa e com os repórteres chegava a ser às vezes
rígida, pedindo nossa retirada dos ensaios, por exemplo.
O espetáculo não traz surpresas, exceto quanto a
participação dela em um show para militares, episódio pouco conhecido. A
maioria dos relatos consta da competente biografia de Regina Echeverria (
Furacão Elis, Editora Globo) e em outros livros sobre a MPB.
Tenho um critério particular para avaliar filmes, shows ou
espetáculos: é bom quando a gente nem pisca os olhos.
De um modo geral eles objetivam agarrar o espectador,
provocando interesse e emoção. Quando consegue prender a atenção de forma
cabal, fazendo a gente esquecer o mundo lá fora e a própria vida durante todo o
seu tempo de duração, aí sim, tudo está perfeito. Assim aconteceu. Durante três
horas, com intervalo de 15 minutos para um café, o misto de peça e show
conduziu o público por um mundo mágico de recordações inimagináveis. De minha
parte, não pisquei os olhos, salvo para enxugar discretamente algumas lágrimas.
E notei que o mesmo acontecia com minha filha, ao meu lado, e com outros
espectadores.
Nelson Motta e Patricia Andrade produziram o texto e a
direção é de Dennis Carvalho. Elis é representada por Laila Garin, mas no dia
em que fui, à tarde, era Lilian Menezes no papel principal. Considerando que
elas foram selecionadas entre cerca de 400 candidatas não sei se haveria
grandes alterações entre os dois momentos. A participação de Tuca Andrada,
Cláudio Lins e grande elenco garante a qualidade do espetáculo, mostrando
personagens emblemáticos da cultura do país, como Miele, Jair Rodrigues,
Vinícius de Morais, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli, César Camargo Mariano e Lennie
Dale, entre muitos outros. A imitação de Marília Gabriela é engraçadíssima e
arranca aplausos significativos.
A presença de Elis Regina na MPB é tão marcante que mobiliza
pessoas de diferenças faixas etárias em torno de sua musicalidade e leva
centenas de pessoas ao teatro. Apesar do surgimento de grandes nomes neste
cenário - Zizi Possi, Mônica Salmaso, Alaíde Costa, Maria Bethânia, Gal Costa,
Ná Ozetti, e tantas cantoras de grandes qualidades - Elis se mantém no topo das
citações quando o assunto é qualidade. Isso não quer dizer que ela seja melhor
do que as outras, pois cada uma tem características próprias, inconfundíveis,
mas a gauchinha plantou seu nome definitivamente no estrelato musical do país.
Se o sucesso de um espetáculo depende de quanto ele prende a
atenção ou desperta o interesse do espectador pode-se considerar que neste caso
ele está plenamente consolidado. Embora a demanda por ingressos nem sempre
constitua demonstração de qualidade, arrisco o palpite de que nesse caso
qualquer sacrifício para sentar-se nas confortáveis poltronas do Teatro Alfa
vale a pena. Não se trata de sacrifício, enfim, mas de prazerosa emoção.
Parabéns pelo belo artigo. Sou fã de Elis e assisti o show Falso Brilhante em 1978, no nosso lindo Teatro de Santa Isabel. Ando compartilhando textos seus, com a devida identificação, em meu face. Tenho como amiga virtual a adorável Conceição Tiné. Amizade estreita e interessante. Coisas de gravataenses.
ResponderExcluir