50 ANOS DE JORNALISMO DE RICARDO KOTSCHO
50 ANOS DE JORNALISMO
DE RICARDO KOTSCHO
Ao me dirigir à Fundação Cásper Líbero para a homenagem que se prestaria
a Ricardo Kotscho pelos seus 50 anos de jornalismo pensei nos grandes nomes que
antecederam o repórter na categoria de mito. São nomes que de alguma forma
influenciaram os candidatos à profissão e figuram nos livros didáticos das
faculdades.
Um desses mitos estava entre os que relembrariam detalhes da carreira de
Kotscho. Antes de ser jornalista eu devorava as reportagens de Audálio Dantas
na revista O Cruzeiro, enquanto minhas irmãs se deliciavam com reportagens
sobre misse Brasil. E pensar que anos depois votaria nele para presidente de
sindicato e deputado federal! Agora, aos 80, Audálio disserta faceiro sobre as
peripécias de Kotscho.
Na verdade, o homenageado é uma espécie em extinção. Não é saudosismo,
mas quase não há mais lugar para reportagens idealizadas por Ricardo Kotscho.
Aos 66 anos, ele continua afirmando que o lugar de repórter é na rua. Parodiando
Milton Nascimento, afirma que é preciso ir aonde a notícia está, sujar os
sapatos, misturar-se aos meios e às pessoas que se pretende enfocar. Não basta
apurar por teleone ou recorrer aos modernos meios de comunicação. Simples
assim.
Kotscho percorreu o país com o fotógrafo Jorge Araújo durante meses,
vendo tudo, entrevistando todos e fazendo reportagens memoráveis. Quando Lula,
já eleito, o reencontrou nem fez convite para ser assessor de imprensa.
Perguntou o que ele estava fazendo ali, ou por que não estava em Brasília,
cuidando de sua nova missão. E Ricardo foi para Brasília. Antes do término do
mandato puxou o carro. Sucumbiu provavelmente às circunstâncias que
caracterizam o exercício do poder, mantendo a dignidade de não tripudiar.
Transferiu o cargo para Franklin Martins. Fui assessor de imprensa de grandes
instituições ao longo de minha também longa carreira e conheço as dificuldades
para contornar algumas situações.
Kotscho se orgulha de jamais ter sido demitido. Pudera. Sua perspicácia
não deixava chegar a esse ponto. Sabia
exatamente quando parar.
Eliane Brum fez uma confissão por escrito. Ela mesma excelente repórter,
com textos brilhantes e livros elogiados pela crítica, fez um depoimento de
tiete, confessando que ao aceitar ser redatora da revista, sentada praticamente
ao lado do seu ídolo, ligava deslumbrada para os ex-colegas do jornal Zero Hora
para dizer que estava na mesma redação que Ricardo Kotscho. Partindo de uma
jornalista-escritora de grandes méritos, a tietagem explícita não deixa de ser interessante.
Outros jornalistas teceram loas na homenagem, entre os quais Clóvis
Rossi, Hélio Campos Melo, Ricardo Carvalho, Eugênio Araújo (em nome do
jornalista e vereador José Américo, presidente da Câmara Municipal de São
Paulo), e até um antigo companheiro de Lula, Djalma Bom. O diretor do curso de
jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Carlos Costa, deve orgulhar-se de ter
cedido o auditório para tão memorável evento, transferido para o local por
causa de uma greve de funcionários e professores da USP. O diretor de
jornalismo da TV Gazeta, Dácio Nitrini, ex-companheiro de Kotscho na Folha de
S. Paulo, também estava lá.
Como uma das organizadoras do evento e mediadora dos pronunciamentos,
Mariana Kotscho irradiava
felicidade. Habituada ao mister de entrevistar, como apresentadora do programa
Papo de Mãe, da televisão, e tendo o DNA da notícia como filha do homenageado,
talvez não esperasse tamanha demonstração de solidariedade.
Onze anos mais velho que Ricardo Kotscho, testemunhei seu trabalho
durante alguns anos nas mesas do Estadão tanto na Major Quedinho como na
Marginal do Tietê, lado a lado de outras lendas do jornalismo como Clóvis
Rossi, Ludenberg Góes, Carlos Conde e Oswaldo Martins, entre outros.
Se não cheguei aos pés deles, batalhei ombro a ombro, o que me basta e muito me honra.
Se não cheguei aos pés deles, batalhei ombro a ombro, o que me basta e muito me honra.
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