TRINCHEIRA DO FREVO PERDE CARLOS FERNANDO


A morte de Carlos Fernando tem um significado especial para os pernambucanos e para mim em particular. Antes de ser produtor musical, compositor e cidadão do mundo, com assento nas melhores mesas do Degrau em Ipanema, frequentadas pelos baianos, cariocas e paulistanos da MPB, ele andou comigo nos bares de Caruaru e do Recife, em companhia de outras figuras que mais tarde brilhariam em diferentes atividades artísticas.
Uma das qualidades de Carlos Fernando, desde então, era a enorme facilidade com que granjeava amizades de quaisquer níveis sociais. Tanto poderia ser visto com Caetano Veloso ou Gilberto Gil nos mais finos restaurantes de Ipanema, como era encontrado no Bar do Belo, em Caruaru, tomando umas e outras com humildes pinguços que lhe forneciam matéria prima e motes para suas composições e produções.  Nesse sentido, Carlos Fernando era também um repórter, cuja sensibilidade permitia captar aspectos relevantes da vida em sociedade e causos que viravam músicas.
Registre-se sua enorme contribuição para a sobrevivência do frevo, ameaçado pela invasão de mediocridades de várias procedências. Sua rica e enorme produção, com destaque para Asas da América e os Cem Anos de Frevo, arregimentando grandes nomes da MPB, tinha como um dos objetivos divulgar o ritmo genuinamente pernambucano. Para tanto, Carlos Fernando mobilizou toda sua rede de contatos no país inteiro. Enquanto seu irmão Manoel Messias se notabilizara nas lutas políticas, nos tempos de Miguel Arraes, ele cavava suas trincheiras em favor do frevo e demais rítmos nordestinos, juntando-se aos tropicalistas, forrozeiros e instrumentistas do Rio, Recife e Salvador.

Centrado num mundo essencialmente cultural, o compositor caruaruense nunca se preocupava com aspectos financeiros. Vivia entre Niterói, Rio de Janeiro e Recife, sempre nas melhores companhias, nos melhores bate-papos, desfrutando os melhores comes e bebes. Deixa uma legião de amigos e extensa folha de serviços à música popular.

                                         Flávio Tiné e Carlos Fernando

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