OJERIZA A J0RNAIS
Ainda não descobri porque as secretárias do lar,
cuidadoras e babás odeiam tanto os jornais. Basta abandonar a leitura para ir
ao banheiro ou tomar um café, lá vem elas para dobrar, desdobrar, fechar as
páginas ou jogar no lixo. Há anos observo essa tendência e não consigo desvendar
o mistério.
Sou um dinossauro. Mesmo com acesso às edições virtuais -
sites, blogs e Facebook - gosto de ler no papel quadrinhos, ilustrações,
palavras cruzadas e até peças publicitárias, algumas de certa beleza. Leio até
obituários. Alguns amigos já confessaram ter também essa curiosidade e surpreendem-se
diariamente com o número de pessoas mais jovens do que nós que se mandam “antes
do combinado”, como costuma dizer Rolando Boldrin, apresentador do programa
“Sr. Brasil”, da TV Cultura.
Quando morava na minha pequenina Miraí – digo, Gravatá - associava
a leitura dos jornais aos pregões do jornaleiro, gritando as manchetes. Já na
cidade grande, é só abrir a porta e encontrar o exemplar no chão, pedindo para
ser “devorado”.
Enquanto assessor de imprensa, só iniciava minhas atividades
depois de ler os jornais, tantos quanto estivessem disponíveis, o que me
deixava confiante.
Quando meus filhos tinham quatro, cinco anos, usava a
estratégia de espalhar jornais pelo chão para que eles tentassem ler as
manchetes. Deu certo. Aprenderam a ler muito cedo.
Fui repórter, redator e pauteiro, função que me obrigava
a ler todas as notícias do dia. Era uma leitura superficial, é verdade, mas
bastava para dar segurança.
Imaginemos que cada um de nós tem uma maneira de sentir
segurança para iniciar uma jornada. A minha era ler jornais. Se não passasse
pelo menos uma vista d’olhos pelas páginas dos jornais do dia não me sentia
seguro para iniciar qualquer tarefa. Torcia para que ninguém me interrompesse
durante esses momentos, nem recolhesse os cadernos antes do tempo.
Mas a secretária do lar não cede sequer ao argumento de
que seria prudente guardar os jornais, já que algum dia poderia faltar papel
higiênico. E se ela tivesse algum cachorro?
Quem sabe algum dia possa descobrir o que está por trás
desta mesquinha perseguição aos jornais! Definitivamente, o maior inimigo dos
hebdomadários não é a internet, e sim a mulher da limpeza. Em tempos cada vez
mais difíceis, que exigem contenção de despesas, ter uma profissional desse
tipo é quase um privilégio. Pena que a maioria tenha essa estranha ojeriza aos
jornais.
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