CAMPANHA CONTRA O FUMO

Reproduzo a seguir, entrevista realizada pelo jornalista Luiz Roberto de Souza Queiroz, para conhecimento dos meus leitores e seguidores:


JAQUELINE ISSA, A MÉDICA QUE


APRENDEU A USAR A MÍDIA



Quando a cardiologista Jaqueline Issa recebeu o material da OMS para iniciar a campanha que viria a tornar o Brasil o País líder da redução de fumantes no mundo, ela achou estranho que receber no material um vídeo de um jornalista da CNN, ensinando como divulgar notícias e como usar a assessoria de imprensa para conscientizar a população dos males do cigarro.

“Eu não tinha uma visão do poder da mídia”, confessa ela, “mas sentia que fazer a campanha no INCOR para que os médicos deixassem de fumar no hospital e até perto do leito dos pacientes era apenas parte do trabalho que me impunha”, confessa.

A outra parte do trabalho, a divulgação externa, Jaqueline diz deve aos três assessores de imprensa que se sucederam no Hospital das Clínicas e no Incor, André Aron, que lhe abriu as portas do ‘Bom Dia São Paulo’ na Globo, Flávio Tiné, que distribuiu releases sobre os males do tabaco para jornais do Brasil inteiro e Rita Amorim, que até hoje divulga cada passo da grande luta contra o tabagismo, que continua.

Jaqueline diz que tem um preito de gratidão para com os jornalistas que, ao longo dos anos, convenceram a população a segregar o cigarro, a incentivar o fumante a largar o vício e que levaram o Brasil a registrar 30% de queda no número dos fumantes. “É claro que o apoio de Adib Jatene, que assumiu o Ministério quando eu iniciava a campanha e de todas as entidades anti-tabagistas que se aproximaram o INCOR foi vital”, diz ela, mas só a divulgação da imprensa é que trouxe os políticos para a cruzada, “exatamente como a Organização Mundial da Saúde tinha antecipado”.

No seu “curso improvisado de jornalismo prático”, a cardiologista percebeu que quando Jatene baixou a primeira lei limitando a divulgação de anúncio de cigarro e a imprensa apoiou em massa, os políticos perceberam que a opinião pública se voltava contra o cigarro e aproveitaram a deixa.

A médica sentiu que podia vencer a guerra quando Prefeitura de São Paulo e Estado disputaram, na gestão Mario Covas, para ver quem proibia primeiro o cigarro em locais públicos, bares e restaurantes. Os políticos sentiram que investir contra o cigarro dava retorno certo, conclui, e as leis restritivas se espalharam rapidamente pelo Brasil inteiro.

O COMEÇO, SÓZINHA

Cardiologista, doutorada pela Faculdade de Medicina da USP e formada em administração hospitalar pela GV, Jaqueline até chegou a experimentar o cigarro na adolescência, mas voltou-se contra o tabaco quando a mãe, com 38 anos, teve um infarto e precisou parar de fumar. “Deu certo, ela está com 72 e muito bem, mas em compensação meu pai nunca conseguiu parar, morreu no ano em que me formei, de câncer do pulmão”.

A rejeição natural ao cigarro tornou-se profissional quando o INCOR criou o Grupo de Qualidade de Vida e Mauricio Wajngartnen a indicou para a área de tabagismo, o que a levou a contatar a OMS, “que tinha um Dia Mundial do Anti-Tabagismo para o qual tentava atrair sem sucesso os cardiologistas”. Até então, explica, quem lutava contra o fumo eram os pneumologistas e oncologistas.

A OMS deu todo suporte ao INCOR, enviou vídeos que levaram Jaqueline “a pagar um mico”, à medida em que teve que fazer a tradução simultânea para os médicos, num auditório, e recebeu a maior força do Adib Jatene, primeiro no INCOR e depois no Ministério, onde baixou a primeira determinação restritiva. “Quando o Serra foi ministro, a campanha continuou, pois inseriu os pictogramas contra o fumo nos maços” e a imprensa começou a divulgar o Dia Mundial Anti-Tabagismo, e a médica sentiu a mudança comportamental, a sociedade se conscientizando dos efeitos do fumo passivo, a tal ponto que hoje praticamente todo fumante quer deixar de fumar.

O que falta, diz Jaqueline, é vencer o gargalo da rede de assistência, ainda pequena, uma política de preço mais caro, como prevenção para afastar novos consumidores e reduzir o número de pontos de venda. Mas ela tem certeza de que “vamos chegar lá”.

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