MANHÃ PAULISTANA


 

Há mais de um ano evito almoçar com filhos, netos, genro e nora, com o objetivo de evitar aglomeração. Peço comida pelo telefone ou vou a um restaurante sozinho, tendo por companhia o indefectível telefone celular, que supre eventual crise de solidão. Dali mesmo converso com um amigo em Paris ou com alguém de Caruaru. Sem maiores custos.

Acredito ser este o destino de muita gente hoje em dia. Ainda ontem o ex-colega de mesa no Estadão Marco Antônio Rocha postou selfie num café da avenida Paulista queixando-se da falta companhia. Convidava amigos para sentar-se à mesa, dando a entender que falar por telefone não é a mesma coisa. Falta o aperto de mão, o abraço. É disso que estamos falando.

Às vezes dou um rolê pela cidade com uma de minhas netas. Vamos de automóvel, vidros abertos, ambos com máscara, percorremos parte da cidade e quando a fome aperta recorremos ao drive thru, com álcool gel e cuidados de praxe. Tem dado certo.

Há meses estou pensando em conhecer a Serra do Rio do Rastro em Santa Catarina, mas todo mundo desaconselha, acha uma loucura. Espero apenas que o frio diminua. Quando advertido por esquecer a máscara, desembucho: fazer o quê, se o Covid 19 me pegar? Nem saberia o que dizer antes de me intubarem. A realidade nunca foi tão cruel, muito mais do que a fantasia. Não haverá tempo de adeus nem de pedir perdão pelos erros, cobrar pelos favores ou rezar como nos velhos tempos de acólito.

Espero que ninguém tome tais assertivas como presságio. São apenas maluquices de manhã paulistana atípica de sol brilhante e linda gente desfilando ao largo.

SP 22-08-2021

 

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