PARA RIR OU CHORAR

 


 

Às vésperas de fazer 86 anos, vou constantemente a médicos de várias especialidades em hospitais públicos e privados, recorro à telemedicina, aos parentes e amigos e ainda por cima ouço vizinhas sobre plantas que consideram milagrosas. Tudo isso sem prejuízo dos concertos, shows, cinemas ou passeios.

Há pouco rodei metade da Argentina, de La Plata a Santa Fé, e me surpreendi com a quantidade de idosos nas ruas e restaurantes, alta madrugada, mesmo a uma temperatura de 8°C. As estradas permitem viajar até 130 km/hora. Meus dois filhos me proporcionaram essa aventura deliciosa.

Sei que não sou o único: há outros que não se conformam em ficar na cama. Mesmo com dores aqui e ali vão em frente, com bengala ou cadeira de rodas, desde que tenham grana para gastar.

Tontura, incontinência urinária, dor nos pés (gota), cansaço - nada impede de sair em busca de novas “paisagens”. Quando não quero ir muito longe, vou ao café do Pão de Açúcar da rua Cerro Corá, em São Paulo, a uns três quilômetros de minha casa, por onde passam as pessoas que se dirigem à academia Biorítmo, que funciona no 1º andar.

São tipos inesquecíveis, que chegam em roupas adequadas a exercícios e banhos, como se estivessem indo à praia. Quando faz calor, parece Ipanema ou Guarujá. Se uma delas perceber minhas dificuldades, vem a meu encontro, solícita, oferecer o braço. Aceito, claro.  

Afinal, estamos numa democracia. Depois de 36 anos de carteira assinada, alguém, entre uma cirurgia e outra, conquista aposentadoria e consegue andar de braços dados com uma mocinha de uma das áreas mais ricas do País – Alto de Pinheiros e Alto da Lapa.  

O leitor decide. É pra rir ou pra chorar?

SP 04/12/2022

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