ABSORTO, TÃO SOMENTE
Uma das vantagens das redes sociais, particularmente do You
Tube, é que ninguém precisa ir a Paris para ver o Louvre, a Madrid para ver o
Museu do Prado, ao Vaticano para ver a Capela Sistina ou a Sampa para ver a
Sala São Paulo. Mesmo às pressas e correndo em fila para fotografar, já fiz
isso. Não é o ideal, mas o possível, dentro de minhas limitações econômicas e
culturais.
Agora é possível conhecer até o venerável Hermitage de São
Petersburgo, de 1764, ou o Teatro Bolshoi, inaugurado em 1825, que abriga em
Moscou o mais importante conjunto de balé do mundo, que possui uma única filial
fora da Rússia, na cidade de Joinvile (SC).
Infelizmente, da mesma forma que se vê tudo isso num clique,
vê-se também barbaridades como o sequestro de um ônibus e os impropérios de
autoridades e apresentadores de rádio e televisão, ao vivo e em cores,
aplaudindo uma tragédia nacional anunciada.
Alguém dirá, provavelmente, que não é possível ficar
indiferente diante de tamanha desgraça, que algo deve ser feito, que a polícia
agiu corretamente, que o governador do Rio de Janeiro é um desvairado, que o
mundo é um moinho.
Faço pior: fico ouvindo a violinista russa Alena Baeva tocar
Tchaikovsky no Concertgebouw de Amsterdam, com a orquestra sinfônica de
Dusseldorfer, sob a regência de Alexander Bloch. Pronto.
Estaria arrotando uma “cultura” que não tenho e
menosprezando um acontecimento social relevante, que ficará durante anos na
memória de todos os telespectadores e na fala dos comentaristas boquirrotos? Queira
Deus não desça ao nível deles e me contente com Alena Baeva. Ou apenas com a
música, desde que não me permita descer ao nível do maestro João Carlos
Martins, que de excepcional pianista desceu à bajulação de Paulo Maluf, ou de
Wilson Simonal, que prejudicou irreversivelmente sua carreira por uma atitude
inconfessável.
Não estou indignado como os colegas de imprensa nem alienado
como um músico focado exclusivamente nas notas musicais. Tampouco à deriva
nesse mar de acontecimentos que se sucedem e se superpõem. Estou absorto, tão
somente.
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