OS GATINHOS DE LOYOLA
Não sei o que levou Ignácio de Loyola Brandão a dedicar todo
o nobre espaço da última página do Caderno 2 do Estadão a seus gatos. Pode ter
sido falta de assunto. É verdade que ele não se refere a qualquer felino, ao
contrário, são animais que receberam o nome de Tom, Chico e Marieta, obviamente
em homenagem a Jobim, Buarque e Severo, mãe dos Buarque de Holanda. Os gatos foram
e são tão importantes e educados que um deles queria morrer mas esperou
pacientemente que o dono voltasse de uma viagem. A partir daí o escritor da ABL
– Academia Brasileira de Letras descreve as peripécias dos animaizinhos como
todo mundo costuma relatar, em geral comparando-os aos humanos.
Posso também dar meu depoimento: um sobrinho passou a dormir
no chão, ao lado do cachorro, a partir do dia em que ele deixou de subir a
escada, por fraqueza ou excesso de peso, para dormir no quarto do 1° andar, ao
lado da cama do seu dono. Há um ano meu sobrinho faz isso. Nenhum veterinário o
convence de sacrificar o animal.
Suponho que o escritor quis entrar na onda de valorização
dos animais domésticos, nesses tempos em que o ser humano anda tão
desmoralizado pela Lava Jato e operações assemelhadas. Todo dia alguém escreve
nas redes sociais que os animais domésticos são mais honestos, fiés, sinceros e
amorosos que os brutamontes que nos cercam no trabalho ou no transporte
coletivo. A sucessão de crimes está aí para comprovar. Vários programas de
televisão se dedicam diariamente ao assunto.
Quem sabe Loyola esteja usando de um artifício, ou seja, em
tempos bicudos é melhor escrever sobre gato do que sobre a cachorrada que tem
sido as discussões em torno dos destinos do país. O cidadão de bem, como
Loyola, se vê na obrigação de tergiversar, recomendando o riso como solução,
conforme intitulou um de seus últimos livros: “Se for pra chorar que seja de
alegria”, da Global Editora. Resultado: nem um ser humano da maior importância –
e morreram tantos nos últimos dias - mereceu necrológio tão sofisticado, feito
por um escritor de 46 livros.
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