FORA SÃO PAULO
Como todo
paulistano que se preza, nascido ou não nesta cidade enorme e complexa, já caí
na esparrela de andar a pé aos domingos por toda a extensão da Avenida Paulista
em busca de suas atrações. Além dos lindos prédios, tem também diversas
instituições culturais que acolhem com simpatia seus frequentadores,
proporcionando-lhes paisagens deslumbrantes e deliciosa culinária, sem falar no
desfile de jovens vestidas como se estivessem na praia.
Vinicius de
Moraes celebrizou Ipanema por causa de uma única jovem, que depois virou a
“Garota de Ipanema”, sucesso mundial como samba-canção. Na Avenida Paulista aos
domingos qualquer poeta encontra, sem muito esforço, uma Leila Diniz em cada
esquina.
Mesmo assim,
gostaria de saber o que pensa o carioca com suas paisagens, o nordestino com
suas praias e os brasileiros do Pantanal ou da Amazônia com suas florestas, a
respeito dessa selva de pedra que esconde o Sol e não deixa a Lua entrar pelas
janelas, dependendo do ângulo em que estão os prédios.
Talvez tudo
seja maravilhoso aos olhos de um arquiteto. É possível vislumbrar poesia nas
curvas de Niemeyer, que também existem por aqui, mas o que predomina é o
concreto. O verde tenta furar o cimento que esconde a terra. Fios paralelos se
enroscam de um poste a outro e daí para as paredes, formando labirintos sem fim
que enfeiam o ambiente. Cabos se entrelaçam como enamorados.
Do alto dos
prédios, uma bela visão de quê? De prédios. Prédios e mais prédios. O mais
provável é que estejamos extasiados por uma suposta grandiosidade eloquente. Dá
medo a hipótese de que este cenário de tantos gritos (Fora Lula, Fora Dilma,
Fora Temer, Fora Bolsonaro) venha se transformar no palco de um sonoro Fora São
Paulo.
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