TANCREDO, O IMPACIENTE

Quem viu o filme sobre Tancredo Neves, que está em todos os cinemas, há de concordar que ele foi um paciente muito impaciente. Relutou em ser operado e em ser transferido para São Paulo, em sua ansiedade para assumir a presidência da República, temendo que os militares não dessem posse ao vice, José Sarney. Só consentiu em ser operado quando obteve a garantia de que haveria posse.
O filme narra com clareza e objetividade todos os passos das cirurgias, conforme detalhado no livro de Luís Mir, que obteve da família todos os prontuários, relatórios, exames e demais documentos do Hospital de Base de Brasília e do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A maioria dos detalhes é conhecida, mas não os diálogos entre os médicos e a família de Tancredo, com D. Risoleta Neves pedindo esclarecimentos e exigindo providências. Muito boa a revelação dos bastidores do evento, principalmente as discussões ocorridas entre as equipes médicas, brigando pela verdade.
Enquanto isso, o paciente, inconformado com tudo, desabafava dizendo que não merecia isso. Othon Bastos faz o melhor papel de sua longa carreira de ator, usando apenas o rosto, nada mais que isso, para expressar um sofrimento emocionante. O choro do paciente é o choro da plateia. Com sangue frio de cirurgião, não chorei. Mas confesso que esqueci tudo no decorrer do filme, o que significa ótima sequência de imagens e diálogos. Para mim, filme bom é aquele que nos faz viajar no tempo até que as luzes se acendam e nos traga à realidade. Foi o que aconteceu durante a exibição de O Paciente, de Sérgio Rezende.
Acompanhei de perto o drama de Tancredo Neves na rua, vendo, ouvindo e fotografando o povo na Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44. Entrava e saía do Incor, com o crachá de assessor de imprensa do HCFMUSP. Acompanhando o prof. Guilherme Rodrigues da Silva, superintendente do órgão, vi a primeira cirurgia no Incor. Na verdade, só dava para enxergar as cabeças dos cirurgiões e demais membros da equipe, a partir de um pequeno auditório para estudantes, separado do centro cirúrgico por um vidro.
Minha função era dar condições de atendimento para Antônio Brito atender aos jornalistas do mundo inteiro, no Centro de Convenções Rebouças, em frente ao Incor. Junto com o Serviço de Relações Públicas, hoje Núcleo de Comunicação Institucional do Hospital das Clínicas da USP, registramos a presença de mais de mil jornalistas, brasileiros e estrangeiros, entre os que disputavam dia e noite as notícias sobre o sofrimento de Tancredo. Cada um tentando um furo jornalístico.
A partir daí consolidou-se a ideia de que o melhor hospital de Brasília é a ponte aérea. Acompanhei dezenas de autoridades em suas consultas e internações durante 21 anos. Fiz parte dessa história, portanto.

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