PRA QUE SERVE O FEICEBUQUE?

Um belo dia a gente descobre que está desperdiçando tempo com coisas de somemos. Além de perder tempo lavando carro, limpando janelas, jogando baralho, comendo banana – virou moda passar o dia no feicebuque, bisbilhotando a vida alheia ou postando fotos de filhos, netos, selfies e demais acontecimentos do dia a dia. Exibir nossas façanhas tornou-se comum. Todo mundo se acha o máximo.
Entre as vantagens da nova forma de lazer está o fim da solidão: a comunicação é fácil, rápida e o retorno imediato. Converso todo dia com um primo que mora no Japão e com um amigo em Paris. Mando e-mail para antiga namorada e me surpreendo revivendo encontros às margens do Capibaribe, lá pelos anos 60 do Século passado. Hoje ela está cercada de netos, como eu, e os leva à escola, ao balé, ao teatro ou ao cinema, como eu. Leva ou busca. Outro dia recebi um e-mail de Adrinaldo. O nome é difícil de esquecer, mas admito que havia esquecido. Eu frequentava a casa dele na rua tal, número tal, e ele lembra detalhes desses encontros, mais de 50 atrás. Reencontro virtualmente conterrâneos que residem em São Luís e em Foz do Iguaçu. Por outro lado, me decepciono ao tentar estabelecer contato com antiga paixão, que a gente chamava de amor platônico. Ao responder o e-mail ela foi objetiva: não tem nenhum interesse pelo passado. O que passou, passou. Ousei argumentar, alegando curiosidade, passatempo, uma maneira de burlar a solidão. Inútil. Dito e feito. É querer demais.
Queria ter a coragem do amigo que transformou sua tragédia em crônicas poéticas. Aposentado, postava fotos de jantares, serenatas, encontros os mais diversos em sua casa na ilha de Floripa. Até o dia em que foi ao encontro de velhos amigos no Rio de Janeiro, postou fotos das farras e ao voltar foi vítima de bala perdida, que lhe atingiu a bacia. Após uma série de cirurgias, perdeu os movimentos e passou a depender de cuidadores. Cada etapa do tratamento, uma crônica emocionante. Cada crônica uma obra prima. Não durou um ano. Se fosse imitar o colega e amigo Ruy Fernando Barboza também teria pano pras mangas, pois já fiz quatro cirurgias e nem ouso falar o sofrimento. Só que provavelmente não teria a mesma desenvoltura vocabular.
O lado ruim é que basta ficar meia hora numa cadeira, mesmo a mais confortável, para sentir necessidade de sair. As nádegas me obrigam a mudar de posição. Espero não ser preciso imitar Assis Chateaubriand, que pendurava os dedos sobre o teclado para datilografar seus comentários. Deus me livre! Afinal, o feicebuque aí está para nos salvar.

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