TARDINHA NO SHOPPING
TARDINHA NO SHOPPING
Fui a um dos mais curiosos redutos de idosos da Capital paulistana. Eles lotam todos os cafés do shopping da avenida Higienópolis (São Paulo-SP), principalmente o primeiro, à frente da Livraria Saraiva, que ao fim da tarde não tem uma só cadeira vazia. Não são exatamente eles. Na verdade, a grande maioria é de mulheres, algumas de cabelos brancos, outras nem tanto, mas todas elegantemente vestidas. Às vezes formam grupos de quatro ou cinco, ou são também duplas e trios, uma ou outra solitária, mas nenhuma demonstra qualquer tristeza. Pelo contrário, são sorridentes e alegres, como bandos de andorinhas.
Percebe-se certa disponibilidade. Quem se aproxima recebe amável cumprimento, nem parecem paulistanas. Percebe-se também que são exigentes e literalmente espaçosas, daquelas que ocupam a mesa, as cadeiras, o corredor - se houver - e colocam suas bolsas sobre alguma cadeira vazia por perto.
O shopping é daqueles que permitem a entrada de cães, desde que tenham suas respectivas coleiras. Daí o desfile de todas as raças, muitos vestidos também elegantemente, como as donas.
Vantagem para os tietes: como o bairro é habitado por famosos e globais, pode-se cruzar com o humorista Jô Soares, os jornalistas Juca Kfouri, Mário Almeida ou Arnaldo Jabor, o violonista Fábio Zanon, os repórteres Caco Barcelos ou Graziela Azevedo. Pode-se encontrar até o jornalista Joezil Barros, presidente dos Diários Associados no Nordeste, um velho amigo, a quem perguntei o motivo de tão inusitado encontro: acompanhava a maratona da esposa nas vitrines, naturalmente.
Pode-se encontrar a professora de música Paola Picherzky, também violonista das Choronas, que lançou um disco único com composições de Armando Neves, o Armandinho do regional da Rádio Record na década de 40. Chorinhos primorosos, em execuções brilhantes.
Vantagem para os exigentes: como o shopping não conta com nenhuma estação de metrô ou linha de ônibus por perto, o público é naturalmente selecionado. Ou se chega a pé, a partir dos luxuosos apartamentos em seu redor, ou de automóvel, pagando aqueles preços que todos conhecem, a primeira hora, a segunda, a terceira...
Finalmente, há que se chegar com os bolsos recheados, pois um cafèzinho é pela hora da morte. Por enquanto, não há nenhuma tabela de preços nos banheiros, tampouco se paga pelo desfile de lindinhas em flor. Adoro.
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